segunda-feira, 18 de março de 2019

NASCIMENTO DO POEMA


Batem-me à porta cada dia
A perguntarem por mim;
Se continuo com a poesia.
Respondo-lhe que sim.

Por isso é que comigo me concordo.
Quando durmo, ela vela à cabeceira;
Dou-lhe os bons-dias, quando acordo,
E meto-a na algibeira,

Por vezes, fala-me em segredo:
- Prepara o papel e a caneta;
Vais nascer o poema.
                                 (Com que medo
Me condesso poeta!)

Digo, então, aos escombros
Do passado a que me atrevo,
O que resta de mim, carregado nos ombros,
E escrevo.

António Manuel Couto Viana

Sem comentários: