Tess dos Urbervilles
Thomas Hardy
Tradução: Maria
Emília Ferros
Círculo de Leitores, Lisboa, Agosto de 1983
-Sentes-te contente por nos termos tornado pessoas nobres?
- Nem por isso.
- Mas estás contente por ir casar com um senhor?
- O quê? – exclamou Tess, levantando a cabeça.
- Por a nossa parenta rica te ir casar com um senhor?
- Eu? A nossa aparenta rica? Não temos nenhuma. Quem te meteu isso na cabeça?
- Ouvi-os falar no Rolliver, quando lá fui buscar o pai. Em Tantridge
vive uma dama da nossa família, muito rica, e a mãe diz que se te lhe apresentares,
ela arranjar-te-á casamento com um senhor.
A irmã calou-se bruscamente e caiu num silêncio meditativo. Abraham
continuou a conversar, mas pelo prazer de falar do que de se fazer ouvir e,
assim, a distracção da irmã era-lhe indiferente. Encostou-se à carga e, de
nariz no ar, pôs-se a fazer comentários sobre as estrelas, cintilando friamente
nos negros abismos, serenas e alheias a estes dois pobres seres humanos.
Interrogava-se sobre a que distância estariam estas luzes e se Deus encontraria
do outro lado. Contudo, de vez em quando, a sua tagarelice infantil voltava ao
que ocupava mais intensamente a sua imaginação do que as maravilhas da Criação.
Se Tess casasse com um senhor e se tonasse rica, teria dinheiro para comprar um
óculo de ver ao longe, que conseguisse aproximar as estrelas até
Nettlecombe-Tout? O reaparecimento do assunto, que parecia influenciar toda a
família, impacientou Tess.
- Deixa de falar nisso, agora! - - ordenou num tom acalorado.
- Não me disseste que as estrelas eram nundos, Tess?
- Disse.
- Parecidos como o nosso?
- Não sei, mas acho que sim. Alguma vezes tenho a sensação de que se
assemelham às maçãs da nossa velha árvore do jardim: na maioria são sãs e maravilhosas;
outras tocadas.
- E aquele em que vivemos como é: belo ou tocado?
- Tocado.
- Foi uma azar termos caído num mau, quando havia tantos outros
- Pois foi!
4 comentários:
Tenho esta edição do Círculo de Leitores e li-o há muito tempo e vi o filme, creio que realizado pelo Roman Polansky e interpretado pela Cláudia Kinsky; é dos raros filmes que não será inferior ao livro!
É Nastassja Kinski e não Cláudia (o nome do pai-Klaus- levou-me ao engano).
Na adaptação de livros ao cinema sou terrivelmente suspeito.
A minha decisão tende quase sempre para gostar dos livros em detrimento dos filmes. Neste caso ficamos perante um grande livro e um bom filme. Não tenho especial simpatia por Roman Polanski, mas em abono da verdade terei que dizer que houve esmero na adaptação do livro de Thomas Hardy que foi uma promessa feita a sua mulher, a acrtiz Sharon Tate, tragicamente assassinada.
Nisto de livros e filmes, há o caso de «Os Cavalos Também se Abatem» de Horace McCoy que, numa opinião de mero gosto pessoal, e dados os devidos descontos o filme de Sydney Pollack se tornar mais apelativo.
"Os cavalos também se abatem" também sou da opinião do Sammy gostei mais do filme do que do livro.
Por exemplo "PAPILLON" muito melhor o livro do que o filme apesar do grande elenco de actores, ao passo que o autor do livro (Henri Charriére) foi escritor apenas de dois livros autobiográficos.
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