domingo, 14 de fevereiro de 2021

FOTOGRAFIA


Ainda me lembro: as dúvidas

que nasciam por entre os teus dedos,

e as tuas mãos que se transformavam em

folhas de uma vegetação abstracta…

Era de manhã, quando o ar frio encrespava

a pele e a humidade batia no rosto

como os fios de uma teia invisível. Era

a hora em que nenhum táxi parava, nem

se podia andar pelos passeios sem

atolar os pés de lama. No café,

porém, um calor nascia no intervalo

de um aquário: o teu amor. E mo o peixe

eu bate no vidro sem saber para onde ir

andava às voltas, procurando a saída

para te encontrar enquanto tu

sacudias a água dos cabelos e, sem te

importares comigo, sorrias, como

nenhuns outros lábios sabiam sorrir,

até hoje.

Nuno Júdice

Legenda: pintura de Valentin Serov 

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