Gosta do título que o Eduardo Guerra Carneiro
escolheu para aquele livro que, por Janeiro de 1970, publicou, Isto
Anda Tudo Ligado, uma garrafa de
gin, The London nº 1, original blue gin, que vem do Natal de
há dois anos, mas aberta agora – como ele anda tão calminho, tão a portar-se
educadamente como a família tanto gosta, um raio de um disco em que não pegava
pr’aí há uns 20 anos, talvez mais, que vai demorar perto de 48 minutos a rodar,
tempo suficiente para pegar no tal livrinho do Eduardo, a desfazer-se de tão
lido, há muito esgotado, tem procurado nos alfarrabistas, na feira dita da
ladra, mas nem sombras e apetece-lhe deixar palavras, frases arrancadas às
leituras perdidas nas dobras da memória:
as palavras, deixem-nos falar de coisas que podem começar num copo de cerveja clara, súbitos silêncios, a lembrança de uma infância dourada, anos sessenta feitos e desfeitos, a pressa de agarrar as coisas, anos sem pressa, uma rapariga ao longe num pequeno bar junto á estação de Nelas, um corpo como quem recorda um navio ou um poema de Camilo Pessanha, a caderneta de jogadores roída pelos ratos, a cola feita de farinha, os guerrilheiros que entram no Vává usam as citações à bandoleira e telefonam com muita assiduidade, de que cor são os lagos da Suiça?, Ângela: qualquer coisa no teu olhar me fazia bem, mil mulheres ao contrário, algumas coisas nos marcou os gestos e antes de tudo, no meio de tudo, para além de tudo, o som de um long-play dos Beatles ouvido religiosa e solitàriamente na Rua Dona Luísa de Gusmão, à noite, onde está a cifra, a senha e contra-senha, a chave para abrir tudo isto?
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