domingo, 28 de fevereiro de 2021

OLHAR AS CAPAS


O Testamento Político de Pablo Neruda

Pablo Neruda

Tradução: Alexandre O’Neill

Agência Portuguesa de Revistas, Lisboa, Dezembro de 1975


A Canção do Castigo

 

Não há que contar com o seu arrependimento,

nem há que esperar do céu estre trabalho;

 

o que trouxe à terra um tal tormento

deve ter os seus juízes aqui em baixo,

pela justiça e também pelo escarmento.

 

Não o aniquilaremos por vingança

mas só pelo que canto e pelo que infundo:

minha razão é a paz e é a esperança.

 

Nossos amores são de todo o mundo.

 

E o insecto voraz não se suicida

mas enrosca-se e crava o seu veneno

até que com a canção insecticida,

soerguendo na aurora o meu tinteiro,

 

todos eu conclamo para apagar

o Chefe ensanguentado e embusteiro,

que mandou, pelo céu e pelo mar,

 

que não vivessem mais povos inteiros,

povos de amor e de sabedoria

que nesse outro extremo do planeta,

 

no Vietnam, nas longínquas terras,

ao pé do arroz, em brancas bicicletas

fundavam o amor e a alegria:

 

povos que Nixon, o analfabeto,

nem sequer de nome conhecia

e que mandou matar com um decreto,

 

esse chacal distante e indiferente.

3 comentários:

Seve disse...

Do Pablo Neruda tenho um seu livro de memórias que tem talvez um dos mais belos título da literatura: "CONFESSO QUE VIVI"

Sammy, o paquete disse...

Gosto muito de Pablo Neruda.
Neruda sempre colocou a sua poesia ao serviço das suas ideias. Por vezes, essa parte política prejudica a sua poesia. Isto é apenas a minha opinião, certamente contestada por quem destas coisas saiba melhor do que eu. Este livro, por exemplo, é um panfleto contra a política de Richard Nixon, contra a guerra do Vietnam e um louvor à luta do povo Chileno.

Seve disse...

O seu doce olhar transpirava solidariedade, amizade, paz e tudo o que o homem pode ter de bom!