O Testamento
Político de Pablo Neruda
Pablo Neruda
Tradução: Alexandre O’Neill
Agência Portuguesa de Revistas, Lisboa, Dezembro de 1975
A Canção do Castigo
Não há que contar
com o seu arrependimento,
nem há que esperar
do céu estre trabalho;
o que trouxe à
terra um tal tormento
deve ter os seus
juízes aqui em baixo,
pela justiça e
também pelo escarmento.
Não o aniquilaremos
por vingança
mas só pelo que
canto e pelo que infundo:
minha razão é a paz
e é a esperança.
Nossos amores são
de todo o mundo.
E o insecto voraz
não se suicida
mas enrosca-se e
crava o seu veneno
até que com a
canção insecticida,
soerguendo na
aurora o meu tinteiro,
todos eu conclamo
para apagar
o Chefe
ensanguentado e embusteiro,
que mandou, pelo
céu e pelo mar,
que não vivessem
mais povos inteiros,
povos de amor e de
sabedoria
que nesse outro
extremo do planeta,
no Vietnam, nas
longínquas terras,
ao pé do arroz, em
brancas bicicletas
fundavam o amor e a
alegria:
povos que Nixon, o
analfabeto,
nem sequer de nome
conhecia
e que mandou matar
com um decreto,
esse chacal
distante e indiferente.
3 comentários:
Do Pablo Neruda tenho um seu livro de memórias que tem talvez um dos mais belos título da literatura: "CONFESSO QUE VIVI"
Gosto muito de Pablo Neruda.
Neruda sempre colocou a sua poesia ao serviço das suas ideias. Por vezes, essa parte política prejudica a sua poesia. Isto é apenas a minha opinião, certamente contestada por quem destas coisas saiba melhor do que eu. Este livro, por exemplo, é um panfleto contra a política de Richard Nixon, contra a guerra do Vietnam e um louvor à luta do povo Chileno.
O seu doce olhar transpirava solidariedade, amizade, paz e tudo o que o homem pode ter de bom!
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