quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

ABANDONO AGORA ESTAS PALAVRAS


Abandono agora estas palavras

e deixo que elas sirvam de pedal.

À quinta-feira tombam desarmadas.

Em desleixo as largo. Não são estas

já minhas as palavras. São papel.

Delas me sirvo e logo as abandono.

As palavras violo. O sol lhes roubo.

Para nada mais as quero.

Nem sequer me pertencem.

São coisa digna. Seriam

coisa séria. Caminho entre palavras

calcinadas. São símbolos

apenas. Letra a letra as destruo.

Reconstruo mais tarde

outro edifício. Com outras

ou restos destas mesmo.

Para que mais queria eu palavras?

Palavras não deflagram.

Só servem de rastilho.

 

Eduardo Guerra Carneiro em Algumas Palavras

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