Não esqueçamos estes dias não
esqueçamos
é imprescindível transmitir
não esqueçamos as nuvens não esqueçamos os nomes
nem os mortos nem os vivos
nem os que há para matar ou morrer
não esqueçamos o traçado das ruas não esqueçamos
as balas as
facas o
lume o cuspo
não esqueçamos a ira dos inocentes
as longas noites de tragédia subterrânea
com agulhas punhos
lâminas covardia
não esqueçamos o significado de determinadas palavras
nem as palavras que significam morte ou violência
que cada poro vosso seja um momento da história
para sempre inesquecível de uma luta pela conquista
da vida dignificada
Não seja inútil cada homem voluntariamente sacrificado
ponde os vosso hábito talares de combate
e iniciai o cálculo geométrico do sentimento
não há tempo para a piedade
não há espaço para a solidariedade
não existe eco para as lágrimas que não sejam de raiva
de pura justiça
pois cada homem conhece onde estão o bem e o mal em si próprio
e só têm cumprido os que sucumbem
é o momento portanto de quebrara as estátuas
de rasgar todas as bandeira
de eliminar as palavras por excesso
de destruir as máquinas
e renovar o espírito antes que se dissolva no excremento
de pois de nós os túmulos com outra configuração
e as faces pintadas registando o passado
sem boca nem olhos para
sofrer para estoirar
no gáudio dos dementes
serão o resultado exacto dos nossos pensamentos
Não esquecer não esquecer
nem o tempo nem as armas
nem o sonho nem a verdade
do que por vós passou
e o dia será vosso
Manuel de Castro em Os Cem Melhores Poemas Portugueses
Legenda: pintura de Nikolay Bogdano-Belsky
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