Pequenos Burgueses
Elio Vittorini
Tradução: Maria
Manuela Gonçalves
Capa: António
Domingues
Colecção: O Livro das Três Abelhas nº 46
Sete anos! Como era possível não ir ainda à escola? O avô e os tios, à
força de me quererem com eles, tinham convencido o meu pai, julgo eu, a
ensinar-me em casa. Meu pai, empregado nos caminhos de ferro, e por isso
obrigado a viver em certas estaçõezinhas perdidas nos confins da Calábria, da
Sicília ou não sei onde, deixou que continuasse a estragar-me durante seis ou
sete meses por ano em casa daqueles «negociantes», como ele chamava nas suas
cartas aos nosso parentes gorizianos. À Gorìzia liga-se a melhor metade da
minha infância, a parte ligeira, celeste, de uma nuvem que em baixo, sobre a
face paterna e ferroviária, me sufoca, negra de tempestade. Ali, naquela Gorìzia,
a casa e os jardins públicos ficavam perto, da janela via-se deslizar uma
estrada que não sei se tornarei a ver e rodeava-me, disposto em escada, como no
sonha de Jacob, um paraíso de pessoas queridas, os «negociantes»: os primos, o
tio Ernesto, o tio Odoardo, a tia Benedetta, Lussia e ao avô, o omnipotente e
omnividente. Hoje tudo mudou e nem sequer recordo os nomes desaparecidos das
ruas ou das coisas tal como eram; algumas pessoas morreram, outras já não se
parecem nada como as que eu amava.
2 comentários:
Esta colecção "O livro das três abelhas" era muito interessante.
«O Livro das Três Abelhas», a «Colecção de Bolso da Portugália Editora», a «Colecção Miniatura» dos Livros do Brasil. Foi nestes livros, a preços acessíveis, se é que naqueles tempos de dias cinzentos, em termos de dinheiro que não havia, alguma coisa era acessível, que li obras fundamentais para o meu conhecimento. Foi nos livros da Portugália que li quase todo o neo-realismo italiano: Cesar Pavese, Elio Vottorini, Italo Calvino, Vasco Patrollini, na Colecção Miniatura quase toda a obra do Albert camus
Enviar um comentário