O Ministério do
Medo
Graham Greene
Tradução: Maria Lucília Rebocho Filipe
Capa: Antunes
Círculo de Leitores, Lisboa, Novembro de 1985
Quando uma pessoa
apaga uma marca de lápis, deve ter o cuidado de verificar se a linha
desapareceu. Porque se um segredo é para guardar, nenhum cuidado é de mais. Se
o doutor Forester não tivesse apagado tão mal os traços de lápis, nas margens
da obra de Tolstoi, o senhor Rennit nunca teria sabido o que acontecera a
Jones, Johns teria permanecido o adorador de heróis e era possível que o major
Stone tivesse definhado lentamente para maiores profundidades da loucura, entre
as paredes almofadadas do seu quarto, na zona dos doentes. E Digby? Digby teria
permanecido Digby.
Porque foram as
marcas de lápis, apagado, que mantiveram Digby acordado, a pensar, ao fim de um
dia de solidão e aborrecimento. Não se podia respeitar um homem que não se
atrevia a sustentar as suas opiniões abertamente e quando o respeito pelo doutor
Forester desapareceu, muita coisa desapareceu com ele. O nobre rosto tornou-se
menos convincente. Até as suas qualificações se tornaram questionáveis. Que
direito tinha ele de proibir os jornais… acima de tudo, que direito tinha de
proibir as visitas de Anna Hilfe?
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