sábado, 27 de fevereiro de 2021

OLHAR AS CAPAS


Ele Que Diga S Eu Minto

Antonio Botto

Edições Romero, Lisboa s/d  

Todo este livro é uma infinita camaradagem de vários factos sucedidos. A chamada literatura não tem nele intervenção. Talvez lhe faça falta a mentira de que alguns verdadeiros escritores abusam… Agrada-me ser oposto a essas virtudes de confecção, e sou assim, por natureza. Aqui há só o relato da verdade pura e simples. Podia chamar-lhe memórias ou mais propriamente ainda: um romance original, se às personagens pusesse o nome que as acompanha na vida. Para quê? Vivem. São gente; e entendi que era injustiça esse procedimento pata todas. Se a umas poderia livremente detalhar o que foram e fizeram sem terem de que se envergonhar porque não têm vergonha, a outras seria doloroso apresentar-lhes certos efeitos na biografia do caso pessoal… Mudei a feição ao trabalho: Dou o que é, sem subterfúgio, mas troco o nome à figura. Ninguém me peça explicações. As que se lêem pormenorizadas nas próprias páginas do volume, são as que eu poderia dar ao meu público fiel. Gentes e histórias humanas deste mundo em que vivemos socialmente em desordem: ansiedades em tumulto, o crime, o roubo, a tortura de uma noite de ciúme, o ódio, a ignomínia, o descer, o sacrifício, e o silêncio em que os soluços de uma dor extraordinária se suicidam uns nos outros para evitar o alarme o alarme que seria uma traição! Se oculto a origem e e o lugar é para evitar o acinte de que lhe chamem vingança de um artista sem amor, sem piedade ou consciência… A realidade tem escaninhos de que não saímos nunca.

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