Ele Que Diga S Eu Minto
Antonio Botto
Edições Romero, Lisboa s/d
Todo este livro é uma infinita camaradagem de
vários factos sucedidos. A chamada literatura não tem nele intervenção. Talvez
lhe faça falta a mentira de que alguns verdadeiros escritores abusam… Agrada-me
ser oposto a essas virtudes de confecção, e sou assim, por natureza. Aqui há só
o relato da verdade pura e simples. Podia chamar-lhe memórias ou mais
propriamente ainda: um romance original, se às personagens pusesse o nome que
as acompanha na vida. Para quê? Vivem. São gente; e entendi que era injustiça
esse procedimento pata todas. Se a umas poderia livremente detalhar o que foram
e fizeram sem terem de que se envergonhar porque não têm vergonha, a outras
seria doloroso apresentar-lhes certos efeitos na biografia do caso pessoal…
Mudei a feição ao trabalho: Dou o que é, sem subterfúgio, mas troco o nome à
figura. Ninguém me peça explicações. As que se lêem pormenorizadas nas próprias
páginas do volume, são as que eu poderia dar ao meu público fiel. Gentes e
histórias humanas deste mundo em que vivemos socialmente em desordem:
ansiedades em tumulto, o crime, o roubo, a tortura de uma noite de ciúme, o
ódio, a ignomínia, o descer, o sacrifício, e o silêncio em que os soluços de
uma dor extraordinária se suicidam uns nos outros para evitar o alarme o alarme
que seria uma traição! Se oculto a origem e e o lugar é para evitar o acinte de
que lhe chamem vingança de um artista sem amor, sem piedade ou consciência… A realidade
tem escaninhos de que não saímos nunca.
Sem comentários:
Enviar um comentário