Já lá vão 52 anos.
As vezes que se lembra do Helder Pinho.
Saudades de Dom Helder, já escreveu aqui, e também já lembrou as petiscadas na Rua doCrucifixo, com o Armindo, o Zé Ferraz, a dar voltas à conversa larga para o derrube de uma ditadura.
O Helder a dizer ao Freitas:
-Eh pá!, mas eu sei Latim!...
- Exactamente 4,5, dizia o Armindo naquele sorriso humorado, pois tinha sido a nota do Helder no exame de Latim.
Quando o Helder lhe deu o livro do Hemingway, já era repórter de A Capital onde entrou desde o 1º número. Foi ele que inventou o Leão de Rio Maior que deu, durante largas semanas, primeiras páginas do jornal.
Um jornalista está sempre ao serviço da notícia, tinha como máxima, e percorria as ruas da cidade a esfarrapar crónicas e notícias que estavam frente aos olhos de todos, mas que só ele via.
O pormenorzinho como gostava de dizer.
Apaixonado pela comida e pela bebida, escreveu durante anos
crónicas gastronómicas, nunca lhe chamou críticas, em A Capital.
Quando deixou o jornalismo foi criar borregos e porcos, cultivar hortaliças e batatas para o Ribatejo, velho sonho, igual ao de ser repórter.
Quando o dinheiro se esgotou, tornou-se «free-lancer».
Homem de excessos, devido a uma miocardiopatia, morreu aos 55 anos e exigiu que as suas cinzas fossem lançadas ao Tejo, para que pudesse continuar a ouvir a ronca dos barcos em dias de nevoeiro, ou no último dia de cada ano.
Por vezes, quando procura um livro, e não o encontra na biblioteca da casa, sorri e fica a saber que, num qualquer dia, o Helder o pediu emprestado para todo o sempre.
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