Para além de Dezembro – o mais maravilhoso tempo do mundo – o mês de que mais gosto é Junho. O mês das grandes festas populares em todas as cidades do país. O tempo de perfumes mágicos, o perfume dos manjericos das sardinheiras em flor, de sardinhas assadas, de bifanas de porco fritas. E toneladas de jarros de sangria.
Guardo da infância as quentes noites de Verão, lembro a
miudagem a correr nas ruas, e as pessoas vinham para a porta da rua conversar,
outras ficavam à janela, as pessoas conheciam-se, falavam, por vezes
zangavam-se, outros iam para os jardins, ficavam pelos bancos ou bebiam
cervejas e capilés nas leitarias do bairro.
A televisão viria a destruir o feliz convívio das gentes
simples do meu bairro. As pessoas fecharam-se nas casas. E passámos a não saber
nada uns dos outros, como numa peça de teatro de Peter Handke.
«Pelos Santos Populares organizavam-se bailes de rua
«abrilhantados» (era assim que se dizia) por agrupamentos musicais de corda:
banjos e bandolins, violas. Chamavam-lhes «trupes-jazz», e tocavam as canções
da época: sambas e boleros, e alguns tangos. Mas começavam sempre por valsas.
Eu ficava-me por ali, feito tolo, a observar os dançarinos. Bem gostaria de me
recostar a uma rapariga, e sentir o perfume do seu corpo, mas não sabia dançar,
e era melhor estar parado do que fazer figura de tolo ainda maior.»
Baptista-Bastos
em A Bolsa da Avó Palhaça
1 comentário:
Era um outro mundo.
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