sexta-feira, 30 de junho de 2023

POR JUNHO EM FINALMENTES


 Para além de Dezembro – o mais maravilhoso tempo do mundo – o mês de que mais gosto é Junho. O mês das grandes festas populares em todas as cidades do país. O tempo de perfumes mágicos, o perfume dos manjericos das sardinheiras em flor, de sardinhas assadas, de bifanas de porco fritas. E toneladas de jarros de sangria.

Guardo da infância as quentes noites de Verão, lembro a miudagem a correr nas ruas, e as pessoas vinham para a porta da rua conversar, outras ficavam à janela, as pessoas conheciam-se, falavam, por vezes zangavam-se, outros iam para os jardins, ficavam pelos bancos ou bebiam cervejas e capilés nas leitarias do bairro.

A televisão viria a destruir o feliz convívio das gentes simples do meu bairro. As pessoas fecharam-se nas casas. E passámos a não saber nada uns dos outros, como numa peça de teatro de Peter Handke.

 Por Junho havia os bailes dos Santos Populares abrilhantados por conjuntos apenas com instrumentos de cordas. Hoje colocam por lá uns DJs que apenas têm por missão fazerem barulho.

«Pelos Santos Populares organizavam-se bailes de rua «abrilhantados» (era assim que se dizia) por agrupamentos musicais de corda: banjos e bandolins, violas. Chamavam-lhes «trupes-jazz», e tocavam as canções da época: sambas e boleros, e alguns tangos. Mas começavam sempre por valsas. Eu ficava-me por ali, feito tolo, a observar os dançarinos. Bem gostaria de me recostar a uma rapariga, e sentir o perfume do seu corpo, mas não sabia dançar, e era melhor estar parado do que fazer figura de tolo ainda maior.»

Baptista-Bastos em A Bolsa da Avó Palhaça

 Agora, ao passar os olhos por algumas das páginas de Viver com os Outros, reparo que Isabel da Nóbrega também reteve essa imagem das gentes sentadas à porta de casa, nas quentes noites de Junho, que foi o mês em que nasceu, e talvez por isso tenha escolhido um jantar,numa noite de Junho, para enredo de Viver Com Os Outros. :

 «Descobríamos que aquelas pessoas sentadas nos degraus de pedra, à porta de casa, os garotos na borda do passeio, os homens em mangas de camisa ou casacos de pijama, junto ao muro, quase não falando, recebendo a noite morna e o luar tal como os cedros e as olaias e as tílias do parque, estavam a ser felizes e não o sabiam.

 Os cheiros que andam misturados numa noite de Junho, mesmo na cidade, basta que se encontre um parque próximo. E também o cheiro do manjerico, ali no nicho, por entre as outras plantas, sobre o qual pousei instintivamente a palma da mão quando a Ana me arrastou para aqui.»

 

1 comentário:

Seve disse...

Era um outro mundo.