Tardes de
domingo.
Nos anos de 70/80 António Gedeão dedicava as suas
tardes de domingo a percorrer a velha Lisboa onde nasceu e viveu todo o seu
tempo de andar por aqui.
Gostava muito de fotografar e esse trabalho
encontra-se em Memória de Lisboa.
É comovente ter jacarandás perto do sítio onde moro.
E hoje, tarde de domingo, fui fotografar os 12 jacarandás que estão na Rotunda das Olaias, perto da Escola
António Arroio.
O
jacarandá é uma árvore exótica que chegou vinda do Brasil, da Argentina, da
Bolívia ou do Paraguai
Nos primeiros dias de Maio os jacararandás
começam a florir pela cidade.
Em outros tempos, fotografei (ver etiqueta
jacarandás) os jacarandás do Largo do Rato, da Avenida D. Carlos I. E sempre,
sempre os do Parque Eduardo VII, em tempo de Feira do Livro, numa lembrança
nostálgica para o Jorge Silva Melo:
«Não me tirem a rua dos livros ao sol, não
me fechem a Feira do Livro, deixem-me, uma vez por ano, passear pelo Parque
Eduardo VII de todos os jacarandás, ao cair da noite, pela fresca, deixem-me
encontrar os amigos, são cada vez menos!, deixem-me queixar-me de já não ter
dinheiro, nem espaço em casa para mais papelada, deixem-me voltar a casa com
quilos de sacos, deixem-me a minha Feira do Livro onde ela é, é onde todos os
anos eu respiro um mundo que talvez fosse maior, com mais gente, mais livros,
histórias, poesias, gente a subir e a descer aos sábados à tarde, com tanto
calor. E um dia gostava de filmar, porque não filmar a descoberta do amor entre
um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora
neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em
Maio, no Parque Eduardo VII.»
Pegue-se também no livro A Linguagem dos Pássaros da Ana Teresa
Pereira:
«Foi num mês de Abril, há muitos anos,
éramos ainda crianças. Estamos de novo em Abril, o mês mais doce, aquele de que
Miguel mais gosta, o mês azul, a nossa casa fica mergulhada em lilases, que
escorrem pelo jardim, sobem as árvores, por vezes chegam ao muro que dá para as
rochas. É também o mês dos jacarandás, os jacarandás ao longo da rua estão
cobertos de flores violetas, que vemos da janela do nosso quarto, da varanda da
torre, de um lado do mar até ao infinito, do outro o mar de flores. E o sim dos
pássaros, desde Fevereiro que acordo a meio da noite com os pássaros, e
deixo-me ficar imóvel, ouvindo-os até adormecer de novo e despertar de manhã,
para mais pássaros, e para ele.»
E não irei embora sem trazer o Eugénio de
Andrade:
«São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às nuvens altas – irmão dos pássaros –,
perder-me no ar.»
Também Maria João Avilez:
«Sempre
tive ânsia de viver, de experimentar as surpresas maravilhosas que a vida
encerra, uma grande alegria de viver. Às vezes, a luminosidade de certas tardes
em Lisboa, uma árvore em flor, como esses belos jacarandás do Parque Eduardo
VII, um quadro, uma pessoa que observo e que, por qualquer razão, me desperta a
atenção, bastam-me».
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