Em “For Whom the Bell Tolls”, a loura e sueca Ingrid Bergmann, na cena em que mais celestes lhe vi os olhos, é uma improvável espanhola, uma improvável camponesa e a mais improvável Maria. Apaixonou-se por Gary Cooper, americano e combatente na Guerra Civil ao lado dos republicanos. Quer, mas não sabe como beijá-lo: “Onde é que se metem os narizes”, diz a escaldar de “coqueterie”. Senhor de um nariz que não se mete onde não é chamado, Cooper roça os lábios pelos lábios dela. “Afinal não se atravessam no caminho, pois não”, e já é ela que o beija, uma, duas vezes. À americana.
Manuel S. Fonseca no suplemento Actual do Expresso, 22 de Outubro de 2011.
Dubley Nichols adaptou o romance de Ernest Hemingway, Por Quem os Sinos Dobram, segundo V.S. Pritchett, o romance mais adulto do escritor, para o filme que, com o mesmo nome, Sam Wood realizou em 1943.
Robert Jordan, alter ego de Hemingway,o americano, ou o inglês como quer Maria que ele seja, é interpretado por Gary Cooper e Maria por Ingrid Bergman.
Fica o diálogo, melhor dito o monólogo, de Maria com Roberto.
Maria fala, Roberto ouve e lmita-se a dizer Maria, ela pergunta se fez mal alguma coisa, ele nada diz e beija-a ardentemente:
- Roberto, eu… não sei beijar, senão beijava-o.
Para onde vão os narizes? Sempre me perguntei o que fazíamos com o nariz!
Eles não estorvam, pois não?
Sempre pensei que iriam estorvar. Veja, consigo fazer.
- Maria…
- Fiz alguma coisa mal?
Agora, o diálogo do livro:
E depois, como num último apelo de esperança:
-Mas eu nunca beijei nenhum homem.
- Beija-me então agora.
- Eu bem queria. Mas não sei. Quando me fizeram coisas, lutei até perder os sentidos. Lutei até…até… que um deles se sentou em cima da minha cabeça… e eu mordi-o… e então amordaçaram-me e prenderam-me os braços atrás da cabeça… e outros abusaram de mim.
- Eu amo-te, Maria – repetiu Jordan – e ninguém te fe nada, ninguém te atingiu, ninguém tocou a minha coelhinha.
- Falas a sério?
- Como nunca.
- E podes amar-me ainda? Sussurrou Maria aconchegando-se a ele.
- E mais ainda.
- Vou tentar beijar-te muito bem.
- Beija-me então.
- Não sei,
- Beija-me simplesmente.
Ela beijou-o na face.
- Não.
- E o que é se faz ao nariz? Sempre me perguntei o que se faria ao nariz?
- Olha, vira um pouco a cabeça. – E as suas bocas juntaram-se. Ela estava unida a ele e a boca entreabriu-se pouco a pouco. E, de súbito, tendo a rapariga apertada contra ele, sentiu-se mais feliz que nunca, com uma felicidade interior ligeira, amorosa, exaltada e sem pensamentos, e sem fadigas, e sem cuidados, tudo delícias e ele murmurou: - minha coelhinha. Minha querida. Minha doce amada.