O 1º de Dezembro de 1996 calhou a uma sexta-feira.
Pela vez primeira fomos ao Chana do Bernardino, um tasco que descansa à beira da estrada na Serra d’Ossa, a um passo de anão da vila do Redondo.
Como sei o rigor da data?
Porque a caminho, ao comprar os matutinos, na estação de serviço do Areeiro, dei de frente com a morte, com a morte de Fernando Assis Pacheco, que morrera na véspera.
O Chana do Bernardino era, por esse tempo um tasco, , balão e cozinha à direita, uma pequena sala ao fundo.
No lado esquerdo uma pequena sala, um balcão, fazia de retrosaria, também frutaria, venda de enchidos, queijinhos, etc. & tal.
Chegar, sentar à mesa e o Bernardino, com aquele seu ar chaplinesco, a colocar-nos aos pés um borralhinho, os senhores hão-de gostar, sim que o dia estava bonito de sol mas fazia um friozinho cortante.
Gostámos mesmo, maravilha das maravilhas.
Depois foram as comezainas: azeitonas, queijos de ovelhas da serra, pão mesmo alentejano, pimentos assados em molho de azeite da serra e alho picadinho, fígado de porco grelhado de coentrada, tordos fritos, farinheira assada, estaladiça, bem crocante, borreguinho da serra assado em forno de lenha, laranjas da serra, sericaia, um tinto do Redondo, café e bagaço caseiro.
Uma charutada.
Boleros que não se ouviam apenas se imaginaram.
Se existe paraíso, entendo-o assim.
Voltámos, mais algumas vezes ao Chana do Bernardino. Sempre a mesma qualidade, mas ele já se chegava às mesas e ficava, demoradamente, a recitar a ementa, a que juntava uma lenga-lenga, que falava de uma casa modesta blá-blá-blá.
A coisa já não cheirava nada bem.
Corria o ano de 2003, o Carlos Garrudo fazia 50 anos e caprichou para que fossemos mastigar ao Chana do Bernardino.
Bem comidos, bem bebidos, começamos a desalinhar umas cantigas alentejanas.
O Bernardino correu célere, a pedir silêncio, porque, dias antes, alguém morrera, já não lembro se o sogro, se a mãe.
Espanto dos espantos.
Caramba! se a dor era tanta que não tivesse aberto o tasco.
Mas quis fazer mais uns trocos, só que, por causa do luto, os clientes não podiam cantar.
Por mim declarei, com mágoa o digo, que não mais voltaria a pôr os pés no Chana do Bernardino.
Há dois ou três anos, disseram-me que o Chana do Bernardino, fez obras, apalaçou a casa, encerrou a retrosaria, que também era frutaria, venda de enchidos, queijinhos, etc. & tal, possivelmente aconselhamento dos experts da globalização, mas liquidou por completo aquele ar típico de tasca perdida em nenhures.
A qualidade mantém-se, os preços já têm o selo cee e, disse quem contou, que se perdeu aquele ar que fazia toda a diferença.
Sei bem o que isso é: esperteza saloia.
E mais não digo.
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