sexta-feira, 16 de setembro de 2016

OLHAR AS CAPAS


A Mancha Humana

Philip Roth
Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Julho de 2007

Foi no Verão de 1998 que o meu vizinho Coleman Silk – que, antes de reformar dois anos atrás, fora professor de estudos clássicos no Athena College durante vinte e tal anos, além de ter servido dezasseis como reitor da faculdade – me confidenciou que, aos 71 anos, tinha um caso com uma empregada de limpeza de 34, que trabalhava na universidade. Duas vezes por semana também fazia a limpeza do posto dos correios rural, uma pequena construção de madeira que poderia ter abrigado uma família Okie dos ventos da Dust Bowl nos anos 30 w que solitária e desamparada defronte da estação de serviço e do armazém-geral, hasteia a bandeira americana no cruzamento das duas estradas que assinalam o centro comercial desta cidade da encosta da montanha.

Coleman vira-a pela primeira vez a lavar o chão do posto dos correios quando lá fora ao fim de um dia, poucos minutos antes da hora de encerramento, buscar a sua correspondência. Era uma mulher alta, magra e angulosa, com o cabelo louro a encanecer puxado para trás e preso num rabo-de-cavalo e o género de feições duramente vincadas que costumamos relacionar com as donas de casa dominadas pela igreja e sobrecarregadas de trabalho que sofreram as agruras dos duros primeiros tempos da Nova Inglaterra, colonas austeras, tolhidas pela moral vigente e obedecendo-lhe. Chamava-se Faunia Farley e, fossem quais fossem os sofrimentos que suportava, escondia-os atrás de um daqueles inexpressivos rostos ossudos que não escondem nada e denunciam uma imensa solidão.

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