A Mancha Humana
Philip Roth
Tradução:
Fernanda Pinto Rodrigues
Publicações
Dom Quixote, Lisboa, Julho de 2007
Foi no Verão de 1998 que o meu vizinho
Coleman Silk – que, antes de reformar dois anos atrás, fora professor de
estudos clássicos no Athena College durante vinte e tal anos, além de ter
servido dezasseis como reitor da faculdade – me confidenciou que, aos 71 anos,
tinha um caso com uma empregada de limpeza de 34, que trabalhava na
universidade. Duas vezes por semana também fazia a limpeza do posto dos
correios rural, uma pequena construção de madeira que poderia ter abrigado uma
família Okie dos ventos da Dust Bowl nos anos 30 w que solitária e desamparada
defronte da estação de serviço e do armazém-geral, hasteia a bandeira americana
no cruzamento das duas estradas que assinalam o centro comercial desta cidade
da encosta da montanha.
Coleman vira-a pela primeira vez a lavar o
chão do posto dos correios quando lá fora ao fim de um dia, poucos minutos
antes da hora de encerramento, buscar a sua correspondência. Era uma mulher
alta, magra e angulosa, com o cabelo louro a encanecer puxado para trás e preso
num rabo-de-cavalo e o género de feições duramente vincadas que costumamos
relacionar com as donas de casa dominadas pela igreja e sobrecarregadas de
trabalho que sofreram as agruras dos duros primeiros tempos da Nova Inglaterra,
colonas austeras, tolhidas pela moral vigente e obedecendo-lhe. Chamava-se Faunia
Farley e, fossem quais fossem os sofrimentos que suportava, escondia-os atrás
de um daqueles inexpressivos rostos ossudos que não escondem nada e denunciam
uma imensa solidão.
Sem comentários:
Enviar um comentário