sexta-feira, 9 de setembro de 2016

AS CASAS À BEIRA DO LAGO


Nas casas à beira do lago, pode
pensar-se que o tempo não passa. A água reflecte
o céu parado do verão, e um grasnar
de aves ecoa até à outra margem, como se
o mundo não existisse para além das árvores
e das casas.

Nas casas à beira do lago, não se abrem
as janelas para impedir que os mosquitos entrem,
e que os sonhos saiam. Uma cadeira de balouço
insiste em ficar parada, como o céu do verão,
para que nenhum movimento atravesse
a vida que ali ficou.

Nas casas à beira do lago, contam-se
os dias que faltam para que a água se encrespe,
com o vento do outono, e não se abrem as portas
para que as sombras não fujam para os campos,
onde os ladrões as roubam, deixando sem sombra
quem vive nas casas à beira do lago.

Nuno Júdice

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