domingo, 4 de setembro de 2016

OLHAR AS CAPAS


71 Poemas

Eduardo Valente da Fonseca
Selecção de J.M. da Silva Couto
Campo das Letras, Porto, Setembro de 2001

Ali adiante no porto de Leixões
atracam barcos todas as manhãs.
O sol anda nos mastros a saborear o longe
assim como quem passa objectivo e belo.
Um homem que se encosta ao varandim de um barco
com gestos estrangeiros nas mãos e no vestir,
um rumor permanente de ferros e motores,
um trepar sorrateiro da maré pelas rocas,
um sabor de lonjura no voo das gaivotas.
… E os barcos vão chegando ao porto de  Leixões.
… E os barcos vão saindo a barra de Leixões.
Há vozes estrangeiras no barulho do cais,
gritando livremente verdades que eles sabem.
Corre um sabor a mar com navios à mistura
na fuga só mental dum prisioneiro do cais:
vontade de fugir, vontade de ficar,
os pés muito pegados ao chão todo do cais,
os olhos muito longe de todo o chão do cais…
… E um navio saindo a barra de Leixões,
e um navio entrando no porto de Leixões.

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