sábado, 10 de setembro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Parecia-me que a beleza perdoava tudo e a todos conferia majestade.
Hoje penso que não: que adoeci, que fui envelhecendo, que há poucos livros úteis, que, para sobreviver, temos de trabalhar... e que o trabalho sem amor mata.
Não penso já no amor, penso na morte.
Não na morte que a todos nos espera, a um canto do mundo, a um momento, não na morte final estou pensando agora.
Agora e a toda a hora penso na diária morte que atravesso e se atravessa em mim.
Nessa, sim, é que eu penso; irremediavelmente.
Porque a outra morte tem remédio ou, se o não tem, paciência...
Esta, sim, é que custa.
É que custa a carregar todos os dias,
peso morto.


Raul de Carvalho em Tampo Vazio

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