para que servem as casas quando todos
partiram – deixar o corpo atrás de si como uma casa vazia e ir embora, apenas
isso, uma viagem rápida, fácil, correr as cortinas, apagar as luzes, fechar a
porta atrás de si, nem sequer tão longo como o tempo de pensá-lo, nada tenho a explicar,
quero apenas ir-me embora, as casas têm risos, chaminés, chapéus alto de feltro
e luvas verdes, vestidos com fitilhos saindo de arcas da memória, trazem berços
nos braços e correm ao nosso encontro como animais vivos, são quentes, loucas,
imprevisíveis, fúteis, com os seus cortinados de folhos, as suas camilhas
longas, os seus vidros brilhantes e os seus metais polidos, as suas botas cor
de tijolo e os seus telhados inclinados, por onde escorre o tempo, mas às vezes
morrem e é preciso cobri-las de terra para não suportar o horror de vê-las
decompor-se, é preciso atirar depressa com pazadas de terra e deixá-las
invisivelmente decompor-se, até deixarem de existir e serem levadas pelo vento.
Teolinda
Gersão em Paisagem Com Mulher e Mar aoFundo.
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