sexta-feira, 2 de setembro de 2016

À VOLTA DO CORETO ENTRE EMOÇÃO E MEDO


…Salazar, o professor de Coimbra, morria em farsa de Parque Mayer, vítima doméstica dos seus calos, não dizendo coisa com coisa à sua Senhora Maria, durázia, surpreendida fielmente (contava-se) em combinação, no quarto da clínica. Cada qual seu destino, devido «fatum», «Shiksal» nacional… Tempo é de o escrever – em respeito que pelos ditadores não pode haver, sem ódio nem piedade trinta anos de história decorridos. Pois que seja, nestas memórias, no desprezo que a história promete em sua moral! Eu encontrava-me em Almoçageme nesses dias, em casa do Fernando e da Emília Azevedos, com a Mahité, e saímos a ver as pessoas na praça da aldeia. Como pareciam elas? Olhando-se silenciosas, à volta do coreto, entre emoção e medo, decerto sinceros ambos, nas águas da mesma história longa, longamente vivida – sofrida por muitos, lucrada por poucos, inútil para todos. «Peçonha em água-benta» – dissera Afonso Lopes Vieira.

José-Augusto França em Memórias Para o Ano 2000

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