Se o leitor é comunista, leia. Se é
socialista (convicto ou desiludido), leia. Se está em qualquer lado da
esquerda, nessa pulverização que só nos faz mal a todos, por que não lerá? E se
é da direita (ou da fraude chamada centro, que direita é) também nenhum mal lhe
fará passar os olhos por esta prosa. Não por ser minha (Não sou homem de
vaidades assim, mesmo que não me faltem outras), mas porque tudo quanto for
dito sobre a matéria de hoje ainda será pouco, e eu só ajudo. Claro que a
ressalva se dirige igualmente a quantos leitores pela esquerda se arrumem e
tenham olhos para ver, entendimento para julgar e boa-fé para não cair na
injustiça.
Falo da festa, assim escrevendo a palavra simplesmente, sem a retórica da maiúscula, porque foi uma grande vitória e das grandes vitórias só se deve falar com simplicidade. Falo do verdadeiro plebiscito que representou o ajuntamento de meio milhão de pessoas numa terra que há dois meses era mato, lixeira e desolação. Falo da alegria, da fraternidade, da gentileza, falo SOS sorrisos maravilhados e maravilhosos que as pessoas mostravam umas às outras e talvez a si próprias. Falo de um povo tantas vezes acusado de grosseiro, de mal educado, de inculto ( pois claro), de analfabeto (ora essa), e que durante três longos breves dias comemorou no Vale do Jamor a grande festa da amizade, do respeito mútuo e da sensibilidade. Falo de uma gente que é costume do Governo insultar agora de preguiçosa, de relapsa ao trabalho, e que ali demonstrou, com o esforço de todos os músculos do corpo e do espírito (o espírito tem músculos, sim senhor, ai dele se não os tivesse), uma capacidade de trabalho e de imaginação que irremediavelmente faltam às cansada comemorações oficiais ou oficiosas de qualquer coisa, sela ela vaga, onda ou bochecho. Falo de pessoas que trabalham se acreditam no que fazem, mas que com legitimidade se interrogam sobre o destino da riqueza que produzem e que não querem continuar a ser os provedores da bolsa de capitalistas e latifundiários. No que, digo eu, fazem muito bem.
Falo da festa, assim escrevendo a palavra simplesmente, sem a retórica da maiúscula, porque foi uma grande vitória e das grandes vitórias só se deve falar com simplicidade. Falo do verdadeiro plebiscito que representou o ajuntamento de meio milhão de pessoas numa terra que há dois meses era mato, lixeira e desolação. Falo da alegria, da fraternidade, da gentileza, falo SOS sorrisos maravilhados e maravilhosos que as pessoas mostravam umas às outras e talvez a si próprias. Falo de um povo tantas vezes acusado de grosseiro, de mal educado, de inculto ( pois claro), de analfabeto (ora essa), e que durante três longos breves dias comemorou no Vale do Jamor a grande festa da amizade, do respeito mútuo e da sensibilidade. Falo de uma gente que é costume do Governo insultar agora de preguiçosa, de relapsa ao trabalho, e que ali demonstrou, com o esforço de todos os músculos do corpo e do espírito (o espírito tem músculos, sim senhor, ai dele se não os tivesse), uma capacidade de trabalho e de imaginação que irremediavelmente faltam às cansada comemorações oficiais ou oficiosas de qualquer coisa, sela ela vaga, onda ou bochecho. Falo de pessoas que trabalham se acreditam no que fazem, mas que com legitimidade se interrogam sobre o destino da riqueza que produzem e que não querem continuar a ser os provedores da bolsa de capitalistas e latifundiários. No que, digo eu, fazem muito bem.
José
Saramago, início de uma crónica publicada no semanário Extra de 15 de
Setembro de 1977.
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