No
seu livro de crónicas de viagem “Days Out of Days” (2010), que na minha
edição francesa se chama “Chroniques des Jours Enfuis”, Sam
Shepard tem um texto acerca da morte de Hank Williams.
Não
é das melhores peças saídas da mão do autor de “Crónicas da América”,
mas tem a enorme vantagem de se poder juntar a nós à conversa, como que
aderindo à versão da morte no hotel.
Nessa
crónica a história é contada através do porteiro do hotel, que jura ter visto
Mr. Williams morto e bem morto… Morto e rígido como uma estaca… E terá sido o
médico, com a injeção que lhe deu, quem o matou...
Mas
vestiram-no assim mesmo...
Um
fatinho azul claro.
Uma
camisa de um branco imaculado.
Uma
gravata amarela com uma pequena palmeira bordada a meio.
Botas
de um preto cintilante, com pequenas guitarras e notas de música encrostadas.
E
um chapéu Stetson branco creme bem enfiado na cabeça.
Arrastaram-no
assim até ao carro, o “chauffeur” de um lado, o porteiro do outro.
Ao
atravessarem o “hall” de entrada o rececionista meteu-se com eles,
perguntando se Mr. Williams não teria bebido um copito a mais…
Mas
o mais estranho, conta ele, é que, apesar de morto, um estranho ruído rouco
saia da boca de Mr. Williams, como um impercetível som de folhas levadas pelo
vento. O murmúrio da morte, certamente, o último pedaço de ar que se escapa do
corpo...
Vê-se
tanta coisa quando se é porteiro de um hotel, mas uma destas nunca antes tinha
visto.
Um
som terrível, de facto.
Estranha
coisa esta um homem que passou a sua vida inteira a cantar como um pássaro
sublime, acabar os seus dias com um som como este…
PS:
A
crónica de Sam Shepard é muito curta e anexo-a, para quem por ela se
interessar.
Texto de Luís Miguel Mira
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