quinta-feira, 26 de março de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS


Que raio a diferença que um dia faz?

Têm sido tão iguais os dias, as mesmas rotinas…

Os políticos europeus reuniram-se, via televisão, para encontrarem uma saída para esta terrível crise.

Mas há políticos nesta Europa comunitária? No mundo?

Se há, não prestam para nada!

Ao princípio era tudo união, solidariedade.

Words, words, words, tal como escreveu o velho Shakespeare.

Agora, cada um puxa para o seu lado.

Tal como no futebol: são onze contra onze e no fim ganha a Alemanha.

Políticos nos tempos de hoje, são uns tipos que prometem construir pontes mesmo onde não há rios.

Mas sempre foi assim!

Detesto hipocrisias e os dias de quem detesta hipocrisias, ficam muito limitados.

«Então porque bebo? – perguntava-se o velho escritor – É o medo de estar lúcido!

Que raio a diferença que um dia faz?


 1.

Anselmo Crespo no Diário de Notícias-on line:

«A resposta da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, até agora, podia ser anedótica, se isto desse vontade de rir a alguém. Resume-se a isto: 7,5 mil milhões de euros que cabem na cova de um dente - e que nem sequer é dinheiro novo - e o fim do limite dos 3% de défice, que, durante anos, só alguns é que estavam obrigados a cumprir.
Devagar - muito devagarinho -, Bruxelas começa a retomar uma discussão que começou com a crise de 2008, sobre a mutualização da dívida e a que agora chamaram os "coronabonds". Mas sem pressa, que não há motivos para alarme.
O Banco Central Europeu, que promete fazer tudo o que for preciso, ainda não mexeu uma palha.»

2.

José Miguel Júdice defende que o Presidente da República deve promover uma aliança entre o PS e o PSD para enfrentar a crise provocada pela pandemia.

«O Presidente da República deve ser a figura cimeira na montagem dessa solução», disse, na SIC, o ex-dirigente do PSD.

Júdice entende que a esquerda vai fazer «exigências irrealizáveis» e que a única solução é um Governo do Bloco Central.

3.

 «Hospitais privados exigem que o Estado pague já todas as dívidas,» lê-se no Público.

4.

Gordon Ramsay, «chef» da alta cozinha britânica, anunciou que, por causa do coronavírus, os seus restaurantes iam fechar, agradeceu à sua «maravilhosa» equipa de colaboradores e no final da reunião despediu os seus 500 trabalhadores.

Nunca gostei de «chefs», sejam eles de onde forem, façam lá as «maravilhas» que lhes dê nas brilhantes cabecinhas

Aprendi com o José Quitério: sempre gostei de cozinheiros.

4.


Para o findar do dia, buscar este livrinho de Tolstoi:

«E a dor? – perguntou a si mesmo. – Que é dela? Então, dor, onde estás tu?»
Ficou atento.
«Sim, cá está ela. Pois bem, deixá-la doer.»
«E a morte? Onde está ela?»
Procurava o seu habitual medo, o anterior medo da morte e não o encontrava. Onde está ela? Qual morte? Não tinha medo nenhum, porque também não havia morte.
Em lugar da morte havia uma luz.
-É então isto! – disse ele de súbito em voz alta. – Que alegria!
Para ele tudo aquilo aconteceu num único instante e o significado desse instante já não mudou. Mas para aqueles que estavam presentes a agonia dele prolongou-se ainda por duas horas. Qualquer coisa fervilhava no peito dele; o seu corpo extenuado estremeceu. Depois o fervilhar e os estertores tornaram-se menos frequentes.
- Acabou-se ! – disse alguém por cima dele.
Ele ouviu estas palavras e repetiu-as na sua alma. «Acabou-se a morte – disse a si mesmo. – Já não existe.»
Inspirou o ar, parou a meio de um suspiro, esticou-se e morreu.»

5.

Os terríveis números:

Itália

8. 215 mortes

Espanha

4.365 mortes

China

3.169 mortes 

Irão

2.234 mortes

França

1.696 mortes

Portugal

60 mortes

Mundo

23.004 mortes

6.

Fechar, hoje, com Cecília Meireles:

«Às vezes abro a janela e encontro o jasmieiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.»

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