domingo, 15 de março de 2020

NOTÍCIAS DO CIRCO


Mário de Carvalho, numa velha entrevista ao velho Mil Filhas do velho Público, disse, alto e bom som, que somos um povo de javardos, sem vergonha, sem dignidade.

Mário de Carvalho, numa velha crónica publicada em O Jornal, e incluída em   O Que Eu Ouvi Na Barrica das Maçãs, falava do portugalinho dos sacanas a ferver de mercenários, oportunistas, videirinhos e minúsculos troca-tintas.

Lêem-se estas afirmações de Mário de Carvalho, desfazadas no tempo, sente-se o pontapé no estômago, mas passados segundos concluímos do acerto das razões do escritor.

Um povo javardo!

É isso!

Lembre-se um tal D. Carlos que, como escreveu Fialho d’Almeida, andava «sempre cercado de gastrónomos e de toureiros, e que chamava piolheira ao país de que era rei.»
       
E cada se vez se sente mais que não há volta a dar a isto.

A javardice, em pleno drama de quarentena devido à epidemia do coronavírus, invadiu os supermercados para os mais variados tipos de açambarcamentos.

Deixaram as prateleiras vazias.

Vitor Dias escreveu:

«Comprar em excesso por medo da escassez provoca escassez.
Um problema sério!»

Os javardos são  assim!

O que causa ainda mais espanto, é o açambarcamento do papel higiénico.

Não sei se vem a propósito, mas lembrei-me duma velha história do Pedro Oom:

«Num pequeno país atrasado e pobre o Primeiro-Ministro preocupava-se muito com a ignorância do seu povo.
A percentagem de iletrados era tal que não se descortinava maneira de arrancar do estado de subdesenvolvimento para a fase industrial a que o país necessitava chegar.
O Primeiro-Ministro reuniu os melhores pedagogos do país que elaboraram um pequeno livro de bolso, a que chamaram a “Cartilha Paternal”, onde se resumia em frases simples toda a Ciência existente.
A “Cartilha Paternal” foi distribuída gratuitamente a todo o Povo, o qual lhe deu a serventia que estava habituado a dar a tudo o que fosse papel, liso ou impresso.»

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