Mário de
Carvalho, numa velha entrevista ao velho Mil Filhas do velho Público,
disse, alto e bom som, que somos um povo de javardos, sem vergonha, sem
dignidade.
Mário de
Carvalho, numa velha crónica publicada em O Jornal, e incluída em O Que Eu Ouvi Na Barrica das Maçãs, falava
do portugalinho dos sacanas a ferver de mercenários, oportunistas, videirinhos
e minúsculos troca-tintas.
Lêem-se estas
afirmações de Mário de Carvalho, desfazadas no tempo, sente-se o pontapé no estômago,
mas passados segundos concluímos do acerto das razões do escritor.
Um povo
javardo!
É isso!
Lembre-se um
tal D. Carlos que, como escreveu Fialho d’Almeida, andava «sempre cercado de
gastrónomos e de toureiros, e que chamava piolheira ao país de que era rei.»
E cada se vez
se sente mais que não há volta a dar a isto.
A javardice,
em pleno drama de quarentena devido à epidemia do coronavírus, invadiu
os supermercados para os mais variados tipos de açambarcamentos.
Deixaram as prateleiras vazias.
Vitor Dias
escreveu:
«Comprar em excesso por medo da escassez
provoca escassez.
Um problema sério!»
Os javardos são assim!
O que causa
ainda mais espanto, é o açambarcamento do papel higiénico.
Não sei se
vem a propósito, mas lembrei-me duma velha história do Pedro Oom:
«Num pequeno país atrasado e pobre o
Primeiro-Ministro preocupava-se muito com a ignorância do seu povo.
A percentagem de iletrados era tal que
não se descortinava maneira de arrancar do estado de subdesenvolvimento para a
fase industrial a que o país necessitava chegar.
O Primeiro-Ministro reuniu os melhores
pedagogos do país que elaboraram um pequeno livro de bolso, a que chamaram a
“Cartilha Paternal”, onde se resumia em frases simples toda a Ciência
existente.
A “Cartilha Paternal” foi distribuída
gratuitamente a todo o Povo, o qual lhe deu a serventia que estava habituado a
dar a tudo o que fosse papel, liso ou impresso.»
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