quarta-feira, 25 de março de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS


Acabar mais um dia difícil, com flores.

Alguém perguntou, mas não vi das razões por que isso aconteceu: fecharam as lojas de floristas.

Deve haver mesmo uma razão.

O Dinis Machado chamava a Neil Diamond o cantor do casaquinho azul.

Há uns bons anos atrás, fez um dueto com Barbra Streisand, queixavam-se ambos que já ninguém lhes levava flores, nem cantavam canções de amor, ensinaram tudo um ao outro, excepto o dizer adeus.

Ney Matogrossso, em tempo de Secos e Molhados, questionava-se sobre o fim que todas as flores levaram, essas mesmas flores que, por vezes, a criança pedia.

Ainda sobre flores, algo mais concreto, com outros respeitos e fins, composta por Pete Seeger. 

A mesma pergunta para onde foram as flores, mas também pelos rapazes que andaram a combater por campos de batalha.

Aprendemos alguma coisa?

«Where have all the soldiers gone?
Long time passing
Where have all the soldiers gone?
Long time ago
Where have all the soldiers gone?
Gone to graveyards every one
When will they ever learn?
When will they ever learn?
Where have all the graveyards gone?
Long time passing
Where have all the graveyards gone?
Long time ago
Where have all the graveyards gone?
Gone with flowers every one
When will they ever learn?
When will they ever learn?»

Dessa canção, ficamos com a soberba interpretação de Marlene Dietrich.


1.


A Organização Mundial de Saúde alertou para o facto de os Estados Unidos correrem o risco de se tornarem o novo epicentro da pandemia de Covid-19. Em causa está o rápido aumento do número de infetados no país, particularmente em Nova Iorque, com 25 mil infectados.
Como o tarado Trump disse ao povo que era possível combater o vírus sem ficar em casa, milhares de novaiorquinos zarparam para o sol da Flórida… levando o vírus com eles.

2.

Governador do Texas: «Idosos devem ser voluntários para morrer  para salvar a economia/ De acordo com Dan Patrick "muitos avós" estão dispostos a sacrificar-se pela causa.»

O Vitor Dias de O Tempo das Cerejas, onde li  tal disparate, conclui:

«Estes Republicanos dos EUA conseguem sempre superar as nossas expectativas. A única conclusão razoável é que, antes do COVID-19, já estavam muito doentes da moleirinha.»


3.

Aos poucos vamos sabendo das condições em que se encontravam os idosos nos lares que as autoridades, apesar das muitas queixas, foram deixando abrir por todo o país.

Na maior parte, mensalidades pornográficas, mas condições miseráveis.

Todos nós sabíamos que era assim.

Nada se fez.

Uma avalanche de incompetentes, corruptos, oportunistas, andou envolvida neste carrossel das negociatas dos lares de Terceira Idade.

Não lhes irá acontecer nada!

4.

Isabel Jonet, autoproclamada presidente da Federação dos Bancos Alimentares, diz que a fome está a voltar e que a pandemia levou instituições sociais a fechar portas, o que deixou muitas pessoas desprotegidas.

O jornal «I» que a entrevistou, diz que a dita é «uma mulher de fé» e por isso não considera qualquer cenário de rutura do Banco Alimentar: «Não acredito que, havendo necessidade de ajuda, essa ajuda não chegue».

Em qualquer tempo, mas nunca neste que agora vamos vivendo, não necessitamos, mesmo nada, que determinados personagens apareçam pelos jornais, pelas televisões a dar palpites.

5.

A Portway Handling de Portugal, alega que, devido à quebra na actividade da aviação e turismo, não consegue renovar os contratos cujo prazo termina nas próximas semanas.
  
6.

Mário Centeno, hoje: «O país nunca esteve tão bem preparado para uma crise como esta» e o Governo fará tudo para «restaurar a confiança e regressar à normalidade».

Depois ouvimos as associações patronais e sindicais, após reunião, dizer que as medidas adoptadas pelo governo, não chegam a nada, mesmo nada.

Não joga a bota com a perdigota.

Para acompanhar, atentamente.

7.

Os números negros.

Óbitos no mundo: 20.912
Itália:                        7.503
Espanha:                  3.434
Portugal:                       43

10.

Termino com João Lopes, no seu Covid-20:

«Não apenas pensar a política, mas pensar politicamente — o voto de Godard adquire renovada e perturbante actualidade. Quando penso, qual o compromisso que assumo com os outros? Ao assumi-lo, como defino a dimensão política da minha própria história? E o que é isso de ter uma história particular no interior da história mais geral da comunidade?
Assim: "Penso que somos responsáveis pelos nosso actos. Somos livres. Levanto a minha mão — sou responsável. Viro a minha cabeça para a direita — sou responsável. Sou infeliz — sou responsável. Fumo um cigarro — sou responsável. Fecho os olhos — sou responsável. Esqueço que sou responsável, mas sou." (Nana/Anna Karina, Viver a sua Vida, 1962).»

Legenda: pintura de Edouard Manet

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