quinta-feira, 19 de março de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS


O tempo de excepção que nos impuseram obriga-nos a ficar em casa.

Apesar de tudo, alguns velhos ainda apareceram na Alameda para as suas jogatanas de sueca.

Amanhã, o olho vivo das autoridades, já não lhes permitirão esse gozo de tempo livre.

Ficarão em casa a ver televisão, provavelmente a implicar com quem lhes está próximo.

Continuo como ontem: a apanhar papéis, pedaços de livros, músicas…

Nesta clausura, lembrei-me de uns versos que Ruy Belo colocou no seu poema Ácidos e Óxidos:

«Não achas que a esplanada é uma pequena pátria
a que somos fieis? Sentamo-nos aqui como quem nasce.»

O resto é uma lindíssima canção do José Afonso para um poema do José Carlos Ary dos Santos.

Uma cidade de outros tempos negros que vivemos e a que conseguimos dar a volta.

Demorou tempo... mas conseguimos!


1.

A fábrica da Mitsubishi Fuso Truck Europe vai suspender a partir de segunda-feira, a produção automóvel no Tramagal, em Abrantes, para prevenir a expansão do Covid-19.

Esta paragem tem a duração de duas semanas e manter-se-á até dia 5 de Abril, disseram aos trabalhadores.

2.

A TAP vai reduzir temporariamente a sua operação, «uma decisão que é tomada após os sucessivos anúncios de restrições, como principal medida de contenção da Covid-19, por parte de vários estados das geografias em que a companhia portuguesa opera», explicou a transportadora, através de comunicado.

3.

Com a grande maioria dos campeonatos europeus em suspenso devido à pandemia de Covid-19, a Bielorrússia apresenta-se como uma excepção.

O presidente Aleksandr Lukashenko deixou as seguintes recomendações:

«É importante lavar as mãos, comer a horas certas. Eu não tenho por hábito beber álcool, mas o vodka não serve só para lavar as mãos. Bebam vodka, uns 100 mililitros por dia deve ser o suficiente para matar o vírus!», começou por explicar.
Façam uma sauna, seca. Os chineses dizem que o vírus morre a 60 graus».

4.

Soube-se hoje que a especulação com produtos necessários à protecção das pessoas: luvas, máscaras, luvas, gel desinfectante e álcool puro, atingiu já a barbárie.

Estabelecimentos venderam um simples frasco de álcool de 250 ml por cinco euros.

Antes do surto custavam perto de um euro

5.

As autoridades italianas actualizaram, hoje, os números relativos ao novo Coronavírus.

Com 3405 vítimas mortais a Itália é, agora, o país com mais mortes registadas.

Antes do balanço desta quinta-feira, a China era o país com mais mortes confirmadas.

A Espanha regista 767 mortes e 17.147 infectados

Portugal regista 4 mortes e 785 infectados.

No Mundo já morreram 9.970 pessoas e 241.021 infectados.

6.

Tragicamente ficámos a saber que o mundo não estava preparado para uma pandemia como esta.

7.

Ler é uma tarefa diária. Podem estar certos que não dói.


Se é uma tarefa quotidiana, não há necessidade de existirem livros para férias,
para fins-de-semana, para dias difíceis.

Não há mesmo.

Mas fiquem-se com esta frase, de um certo optimismo, deixada por  Montesquieu: «Não há desgosto que uma boa hora de leitura não me tenha consulado», enquanto vou à estante buscar a minha velhinha edição de Robinson Crusoé , de Daniel Defoe, da velha Biblioteca dos Rapazes publicada pela Portugália Editora com a narração das estranhas e surpreendentes aventuras de Robinson Crusoé e onde podemos encontrar a provação extrema da solidão.


«Robinson salva a vida a um índio; dá-lhe o nome de sexta-feira.»

8.

Os comentadores e jornalistas de direita realçaram a postura de estado e grandiloquência do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. 

O melhor de todo o seu tempo de presidência.

Mesmo que lá esteja, bem escarrapachada, esta pérola de nacionalismo salazarento:

«Nascemos antes de muitos outros. Existiremos ainda, quando eles já tiverem deixado de ser o que eram e como eram».

Certa gente pode deixar a aldeia, vir estudar para a grande cidade, dar doutor ou engenheiro, mas a aldeia nunca lhes sai da mente.

9.

Vamos continuar a viver o estado de emergência ontem decretado pelo Presidente da República.

Subsistem as dúvidas se uma situação destas era mesmo necessária.

Amanhã o conselho de ministros vai debruçar-se sobre as medidas, para estes tempos perigosos, de apoio às empresas e aos trabalhadores.

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Consta que em Portugal já há 5 mortes. Infelizmente muitas mais se seguirão

Um dia feliz