Quando se
meteu a um diário dos dias difíceis, sabia das dificuldades, da rotina das
notícias, dos dramas, dos números.
Sabia, mas
diz que vai continuar.
Tal como um
dia viu Na Vida de Bryan dos Monty Python.
1.
O poeta
Alberto Pimenta tem 83 anos.
Disse recentemente:
«Sei lá quem sou. Sou alguém que anda
talvez à procura ainda de qualquer momento que chegue para me dizer quem sou.
Ainda não chegou. Continuo à procura.»
2.
Uma criança,
com cerca de 10 anos, foi alvejada no pescoço, este domingo, por outra criança,
quando estavam a brincar com uma arma de fogo no bairro da Bela Vista em
Setúbal.
3.
Um
especialista chinês:
«Esqueçam a ideia de que a pandemia na
Europa vai acabar num futuro próximo. Têm de se preparar para uma longa
batalha.»
4.
Contra os
açambarcamentos, um supermercado dinamarquês colocou gel desifectante a 5,50
por frasco. Quem quiser levar dois, ou mais, passará a pagar 134 euros.
5.
Voltando a
Albert Camus, a Sísifo ao seu mito e à fragilidade da existência humana e fiquemos
com as palavras finais desse livro espantoso:
«Os deuses tinham condenado Sísifo a
empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de una montanha, de onde ela
tornava a cair, em consequência do seu próprio peso.
Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.
Se dermos crédito a Homero (A Ilíada), Sísifo era o mais sábio e o mais prudente dos mortais.
No entanto, segundo outra tradição, tinha tendências para o ofício de bandido. Não vejo nisto a menor contradição.
Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.
Se dermos crédito a Homero (A Ilíada), Sísifo era o mais sábio e o mais prudente dos mortais.
No entanto, segundo outra tradição, tinha tendências para o ofício de bandido. Não vejo nisto a menor contradição.
(…)
Já todos compreenderam, que Sísifo é o herói absurdo. Tanto por causa de suas paixões como pelo seu tormento. O seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a sua paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível na qual o seu ser se empenha em não terminar coisa alguma. É o preço que é necessário pagar pelas paixões desta terra.
Não nos dizem nada sobre Sísifo nos infernos. Os mitos são feitos para que a imaginação os anime.
Já todos compreenderam, que Sísifo é o herói absurdo. Tanto por causa de suas paixões como pelo seu tormento. O seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a sua paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível na qual o seu ser se empenha em não terminar coisa alguma. É o preço que é necessário pagar pelas paixões desta terra.
Não nos dizem nada sobre Sísifo nos infernos. Os mitos são feitos para que a imaginação os anime.
(…)
Não há sol sem sombra e é preciso conhecer a noite.O homem absurdo diz sim e o seu esforço nunca mais cessará. Se há um destino pessoal, não há destino superior ou, pelo menos, só há um que ele julga fatal e desprezível. Quanto ao resto, ele sabe-se senhor dos seus dias. No instante subtil em que o homem se volta para a sua vida, Sísifo, regressando para sua rocha, contempla essa sequência de acções sem elo que se torna o seu destino, criado por ele, unido sob o olhar da sua memória, e selado em breve pela sua morte.
Assim, convencido da origem bem humana de tudo o que é humano, cego que deseja ver e que sabe que a noite não tem fim, está sempre em marcha. o rochedo ainda rola.
Deixo Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta as rochas.
Ele também julga que tudo está bem. Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil.
Cada grão dessa pedra cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros (cumes) basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.»
Não há sol sem sombra e é preciso conhecer a noite.O homem absurdo diz sim e o seu esforço nunca mais cessará. Se há um destino pessoal, não há destino superior ou, pelo menos, só há um que ele julga fatal e desprezível. Quanto ao resto, ele sabe-se senhor dos seus dias. No instante subtil em que o homem se volta para a sua vida, Sísifo, regressando para sua rocha, contempla essa sequência de acções sem elo que se torna o seu destino, criado por ele, unido sob o olhar da sua memória, e selado em breve pela sua morte.
Assim, convencido da origem bem humana de tudo o que é humano, cego que deseja ver e que sabe que a noite não tem fim, está sempre em marcha. o rochedo ainda rola.
Deixo Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta as rochas.
Ele também julga que tudo está bem. Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil.
Cada grão dessa pedra cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros (cumes) basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.»
6.
Os números, sempre os terríveis números:
No mundo já morreram 378.394 pessoas.
Em Portugal o número cifra-se nas 23 mortes
No mundo já morreram 378.394 pessoas.
Em Portugal o número cifra-se nas 23 mortes
7.
Dizem que
estamos em guerra.
Mas não se vê
o inimigo.
Foi-nos
reservada a pior das indignidades.
Recopio palavras
de Albert Camus em O Mito de Sísifo:
«Não há sol sem sombras e é preciso conhecer a
noite.»
Legenda: Dom Quixote de Pablo Picasso
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