quarta-feira, 18 de março de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS



Como se vivem estes dias difíceis?

Não sei.

Ando para aqui a apanhar papéis, pedaços de livros, músicas, rasgos de quotidianos, sei lá que mais.

As palavras já não me saltam para exprimir o que quero dizer…

Alguma coisa se passa.

Raios parta o Covid-19!

Vou juntar todos os pedaços e, ao terminar do dia, coloco-os aqui.

A primeira canção é a do Chico Buarque de Holanda do álbum Construção em que ele nos diz para fazer tudo como se fosse a última vez …

Que seja!


1.


Numa das mais famosas passagens de Tanta Gente Mariana de Maria Judite Carvalho, pode ler-se: «Todos estamos sozinhos, Mariana. Sozinhos e muita gente à nossa volta. Tanta gente, Mariana. E ninguém vai fazer nada por nós.»

Alexandre O’ Neill entendia que a solidão procurada é boa, a não procurada é muito chata.

Inauguramos a solidão quando nascemos?

«… estava isolado e quem está isolado está perdido.»

Será?

2.

O escritor Mário de Carvalho disse um dia que «a maior alegria que me podiam dar era proibir a porcaria do jogo da bola e meter na cadeia essa pardalada.»

O senhor Pedro Proença, presidente da Liga de Futebol, não gostou de ouvir o primeiro-ministro António Costa dizer que o futebol não é prioridade nas ajudas económicas que o governo poderá disponibilizar perante o cenário de pandemia que vivemos.

«Essas declarações do primeiro-ministro espantaram-me, no mínimo. Terão sido inapropriadas e inadequadas face ao momento. O futebol não é um mundo à parte, tem de ser tratado como o turismo, a distribuição ou a cultura.»

Há muito que o estado devia ter posto esta malta do futebol no seu devido lugar. Talvez ainda se vá a tempo… talvez…

Digo que gosto muito do futebol jogado mas dispenso os trolhas-dirigentes, toda a corrupção que envolve o futebol.

Quando era puto os velhos diziam: «não há dinheiro, não há palhaços!»

Se eu mandasse, não viam um cêntimo.

O ambiente que rodeia o futebol, nos dias de hoje, é extremamente triste.

3.

Obrigados a permanecer em casa devido às medidas de prevenção impostas face à ameaça do COVID-19, as pessoas começam a sentir os mais diversos tipo de dificuldades.

Um cidadão espanhol, na comunidade de Castela e Leão, foi surpreendido pela polícia, na rua a passear um cão de peluche.

Segundo as medidas aplicadas pelo governo espanhol só podem sair à rua para: ir à farmácia, ao médico, ao hospital , ao supermercado para comprar apenas bens estritamente de primeira necessidade.

4.

Um livro para estes dias: A Peste de Albert Camus.

«Visto que a ordem é regulada pela morte, talvez valha mais para Deus que não acreditamos nele e que lutemos com todas as nossas forças contra a morte, sem erguer os olhos para o céu onde ele se cala.»


Camus conta a história do eclodir de uma epidemia numa cidade. Rieux, um dos médicos, combate a doença até ao momento, após muitas mortes, em que ela fica controlada, mesmo sabendo-se que algumas das vitórias serão sempre provisórias. Ao longo das páginas Camus mostra-nos a reacção da população que vai da apatia à acção, os riscos que correm.

5.

Daqui a instantes, vigorará o estado de emergência decretado pelo Presidente da República, aceite pelo governo e aprovado pela Assembleia da República.

O leigo que sou na matéria, não me permite uma opinião clara. 

Mas sempre direi que talvez não houvesse necessidade de chegarmos onde o presidente, e uma falange histérica, nos colocou.

As regras terão de ser muito claras e ninguém pode mentir a ninguém.

Será que é assim que vai conhecer?

1 comentário:

Seve disse...

1 - SOLIDÃO é viver num andar de um prédio com 80 vizinhos por baixo e por cima e não viver sozinho, por exemplo, num monte alentejano!

2 - Pedro Proença - basta olhar para a figura deste empresário empreendedor, onde nem o gel falta, para se ver a proveniência deste filho da Sicília...não poderiam ter arranjado melhor Padrinho!

4 - PESTE - Mesmo sendo (ou talvez por isso) um GRANDE livro lê-se num instante.

5 - ninguém pode mentir a ninguém..." ; Ó Sammy mas o meu amigo ainda acredita em virgens?