Nestes dias
que agora passam, tento convencer-me de que a vida terá de ser simples.
Poucos sucessos,
muito poucos mesmo, nesse desejável convencimento.
Não posso
sair de casa.
Procuro
palavras antigas.
Construir a
cidade e dá-la a toda gente.
Lisboa é uma
cidade que se vê com os pés. «andando, pensa-se melhor do que sentado»,
diz o João Botelho
«O que há em Lisboa?» pergunta Bogart na tela da sala escura.
Lisboa de
Cesário Verde, «nas nossas ruas, ao anoitecer, há tal soturnidade, há tal
melancolia», Lisboa de José Gomes Ferreira, Lisboa do Armindo «decerto
esta é a mais bela cidade de todas as cidades do mundo, e hoje toda a cidade me
fala de ti», Lisboa de Eugénio de Andrade «alguém diz com lentidão:
Lisboa, sabes…». Lisboa de António de Sousa «de mal te conhecer é que eu
sofria, cidade clara em tuas sete colinas!», Lisboa «cidade branca»
de Tanner. Ou Fernando Assis Pacheco: «se fosse Deus parava o sol sobre
Lisboa», Lisboa que «cheira aos cafés do Rossio, cheira a castanha
assada se faz frio. A fruta madura quando é Verão». Lisboa de José
Cardoso Pires, «logo a abrir, pareces-me pousada sobre o Tejo como uma
cidade de navegar», Lisboa de José Saramago, Lisboa de José Rodrigues
Miguéis, Lisboa de Alexandre O’Neill «se uma gaivota viesse trazer-me o céu
de Lisboa», a «Lisboa menina e moça» de Ary dos Santos, Lisboa
do Mário-Henrique Leiria «ao voo do pássaro», Lisboa de tanta e tanta gente, «chamar-te
a ti Lisboa camarada e depois eu sei lá enlouquecer», para citar Joaquim
Pessoa e Carlos Mendes, Lisboa vista pelo fotógrafo/poeta Luís Eme, guardador
das margens do Tejo num Largo da Memória que visito diariamente.
1.
Há dias,
Marcelo Rebelo de Sousa fugiu de Belém para a sua casa em Cascais com medo de
ser infectado pelo CVID19.
Claro que o
país não precisou do Presidente para nada.
Agora o Expresso
noticia que Marcelo na segunda-feira vai receber o Ministro das Finanças: para
falar da situação económica para lhe pedir que não abandone o governo.
Porque em
Fevereiro, o bitaites Luís Marques Mendes dizia na SIC que Mário Centeno já se
tinha despedido informalmente dos colegas do Eurogrupo e que iria ocupar
cadeira no Banco de Portugal.
2.
O Presidente
do Brasil, Jair Bolsonaro, voltou a desvalorizar o Covid-19, que já matou mais
de 12 mil pessoas em todo o mundo.
«Depois da
facada não vai ser uma gripezinha que vai-me derrubar, não».
Que o tal
deus não lhe perdoe porque ele sabe o que faz e diz.
3.
Em algumas
cidades dos Estados Unidos, convencidos que podem combater a tiro o Corvid-19,
continuam as filas à porta das lojas de
venda de armamento.
4.
A Feira do
Livro em Lisboa foi adiada para finais de Agosto, princípios de Setembro.
5.
O Corvid-19
pode permanecer quatro horas numa moeda.
6.
Poderia ser
tirado de um livro, mas não é.
No rebentar
da Primavera, Manuel Alegre escreveu um poema: Lisboa Ainda.
«Lisboa não tem beijos nem abraços
não tem risos nem esplanadas
não tem passos
nem raparigas e rapazes de mãos dadas
tem praças cheias de ninguém
ainda tem sol mas não tem
nem gaivota de Amália nem canoa
sem restaurantes, sem bares, nem cinemas
ainda é fado ainda é poemas
fechada dentro de si mesma ainda é
Lisboa
cidade aberta
ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste
e em cada rua deserta
ainda resiste»
7.
Devido ao
Covid-19 já morreram 12.977 pessoas no mundo.
A Itália
regista 4.825 mortos e a Espanha 1.326.
Em Portugal
registam-se 12.80 casos de infectados e 12 óbitos.
8.
A maioria dos
portugueses não consegue vislumbrar onde é que as medidas, decretadas pelo
governo, podem ajudar os mais desprotegidos.
Se
verificarmos que grande parte dos trabalhadores têm contratos precários, não
será necessário um grande esforço para ficar a saber que o número de
desempregados irá disparar.
Também não
sabemos se os pagamentos da luz, da electricidade, da água terão algum apoio
por parte do estado.
9.
Assustados,
perdidos, nos vamos quedando.
Continuo a
apanha de papéis, pedaços de livros, pedaços de músicas, rasgos do quotidiano…
Para onde
vamos? Quem nos espera ainda?
Legenda:
fotografia de Luís Eme do Largo da Memória
1 comentário:
Abraço
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