ADEUS POR UM
CASACO
É tempo de
dizer, agora que o Verão chegou e está um calor de ananases, que o meu velho
casaco de lã, fez o seu último Inverno.
Pela
Primavera agora finda, ainda o vesti porque o sol andou por ela dentro com uns
farrapos meio parvos e à noite apetecia uma lãzinha.
Comprei-o na
primeira Festa do Avante realizada, em 1990, na Quinta da
Atalaia, no pavilhão de Vila do Conde e sempre me cheirou a mar.
Quando senti
que andava a dar as últimas, tentei, por diversas vezes, encontrar um outro
semelhante, mas nunca consegui.
Olhava-os mas
sentia logo que não correspondiam à imagem e cheiro do meu velho casaco.
Nos últimos
invernos, a Clementina, minha sogra, foi-o gatando com uns pedaços de lã e
linha, disfarçava, mas não vai dar mais.
A minha neta
Maria, já no passado ano, dissera: o avô anda tão mal vestido.
Tentei
explicar-lhe que me sentia maravilhosamente bem dentro daquele casaco mas ela
mandou-me um tá bem abelha!
O próximo
Inverno já não me encontrará com ele vestido.
Não sou de
lágrima fácil, mas senti necessidade de lhe deixar, como profundo
agradecimento, um adeus e acrescentar-lhe esta velha canção da Dolly Parton.
Também a
esperança que um dia encontre um substituto à altura do seu conforto.
Pelo andar da
carruagem, débil esperança…
Ou por outra: resta-me a desesperança de não mais entrar num casaco assim.
Ou por outra: resta-me a desesperança de não mais entrar num casaco assim.
Texto
publicado em 21 de Junho de 2015.
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