segunda-feira, 16 de março de 2020

VELHOS DISCOS


Numa noite de longas “fluts” de Murganheira, aquelas noites quentes de Junho, ouvia-se a voz de António dos Santos. Desde essa noite o Luís Miguel Mira passou a chamar-lhe o «Tom Pxton português».

Mário Castrim, após um TV Clube na velha televisão a preto e branco dos tempos da outra senhora, na sua crítica televisiva, realçava a voz maravilhosa de António dos Santos e arriscava dizer que se outras palavras António dos Santos cantasse, a história seria outra.

Mas não se podia exigir a António dos Santos senão aquele vogar simples e não o convidassem para voos onde não soprassem os seus ventos. O estilo era o gozo de cantar no tasco que inventou em Alfama.

Marinheiro de longo curso não deixou escola nem seguidores e apenas gravou um LP para a Valentim de Carvalho que mais tarde apareceu em CD, ambos difíceis de encontrar.

Volto regularmente a este disco e nestes dias passados sem palavras, foi isso que aconteceu: uma capa de um kitsch, a roçar o soberbo, uma voz impressionante, suavidades várias, chuva de tristezas, nostalgias no rodar de todas as espiras, uma fabulosa balada, gaivotas em terra, que fala de marinheiros sentados num banco de bar, meninas morenas que sonham casar, marujos sozinhos pensando outro mundo, meninas em casa fiando o desejo.


4 comentários:

Luis Eme disse...

Tem um estilo único, Sammy.

Há dias vi um programa sobre ele na "RTP Memória" (por curiosidade, sabia pouco dele... e continuo a saber) e percebi que se percebia melhor as suas palavras quando cantava que quando falava (embora muitas gravações antigas deixem muito a desejar e aquela era anterior a 74).

" R y k @ r d o " disse...

Uma maravilha ouvir...
.
Feliz semana seja de trabalho ou de laser.

Seve disse...

Que bonito e que bela voz!

Sammy, o paquete disse...

Dado que o ter ido buscar este disco do António dos Santos provocou agrado, vou voltar a falar dele. Até porque tenho de fazer uma rectificação: o Luís Miguel Mira, naquela noite de Junho, chamou-lhe o «Tom Paxton do fado» e não o «Tom Paxton português» e pediu-me para, num futuro texto, colocar mais umas canções do António dos Santos e também uma canção do Tom Paxton, concretamente
«Everytime».
Assim acontecerá.