domingo, 22 de março de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS

No findar do dia de hoje, fui no encalço de um muito velho recorte de um texto que o Mário Castrim deixou numa das suas críticas de televisão que, diariamente, publicava no Diário de Lisboa.

Contas muito por alto, Mário Castrim, enquanto crítico, passou 70 mil horas frente ao televisor.


Ainda morava frente à estação da Carris, perto do Calvário, trabalhava noite dentro, deixava a crítica no puxador da porta, ao lado do saco do pão, e era ali que o motorista do Diário de Lisboa ia busca-la às 7 da manhã.

José Mário Branco faz-nos hoje companhia: «Ser Solidário»



«Ser solidário assim p'ralém da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz

De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção

Ser solidário, sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime

De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria

Ser solidário assim pr'além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz

Ser solidário assim pr'além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz

De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção

Ser solidário, sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime

De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria

Ser solidário assim pr'além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz»

1.

As autoridades portuguesas iniciaram uma operação de repatriamento de mais de 1300 passageiros que chegaram, este domingo, a Lisboa num navio de cruzeiro, dos quais 27 portugueses, no âmbito das medidas de combate à Covid-19.

2.

Um lar, numa terra junto a Vila Nova de Famalicã, tem 33 utentes, 18 trabalhadores. Destes, oito acusaram teste positivo de Covi-19. Os restantes encontram-se de quarentena.

3.

Covid-19 mata, em média, 33 italianos a cada hora que passa.

Não se realizam serviços funerários. São camiões militares que fazem o transporte dos corpos que ficam em regime de espera.

Em Itália há 59.138 pessoas infectados e já se registaram 5.476 mortes.

4,

Notícias provenientes de Madrid dão conta de que morre uma pessoa, vítima do Covi-19, de 15 em 15 minutos.

Os mais velhos estão a ser privados de acesso a ventiladores.

A Espanha regista 28.573 infectados e 1.725 mortos.

5.

Portugal regista 1.600 pessoas infectadas e 14 mortos.

Já se registaram 14.611 mortes em todo o mundo.

6.

De repente, as cidades tornaram-se desertas, tornaram-se cidades fantasmas, cidades invisíveis.


Italo Calvino escreveu As Cidades Invisíveis e guardou para o seu final estas palavras:

«Diz: - Tudo é inútil, se o último local de desembarque tiver de ser a cidade infernal, e é lá no fundo que, numa espiral cada vez mais apertada, nos chupar a corrente.

E Polo: - O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.»

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