sábado, 14 de março de 2020

A SECRETA LOUCURA DE VOZES LONGÍNQUAS


Infuência do meu avô paterno, que odiava os meses de Janeiro e Fevereiro – dizia ele: «acabam-se as festas do Natal e ficamos nas sombras de dois meses de tristeza-quase-trevas, restando-nos aguardar os primeiros salpicos da Primavera que há-de chegar!» – sempre consegui ultrapassar esse sentimento depressivo, mas este ano, vá lá saber-se porquê, fui-me deixando afundar. 

Em todos os outros, e são  mesmo, muitos muitos, resolvia o problema com alguns gins, muita música, os livros e os filmes do costume.

Mas de repente, vi-me metido nesta quarentena-covid-19 em que alguém, a propósito do escritor Rui Nunes, dizia que nos sentimos sitiados, que nos resta ouvir da boca dos pardais as últimas que nos vão dando conta da inexistência de Deus, ao mesmo tempo que Alexandre O’ Neill salta ao teclado do computador para lembrar  que o medo vai ter tudo e é isso exactamente o que o medo quer.

Volto às pedras do cais, olho este rio que é um mar, e será tempo de esquecer melodramas e cenas melanco-apatetadas.

E a Primavera vem aí, «bem na sinto», como escreveu Fialho d’Almeida em excerto que vão encontrar em Olhar as Capas, livro que veio da biblioteca do meu pai, livros velhos que, nestes dias sem palavras, andei folheando, ao mesmo tempo que lhes espanejava o pó.

Legenda: imagem de Mihai Criste

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Nenhum Governo de nenhum País do mundo estava preparado para uma Pandemia destas. Agora vai tentando minorizar o problema com medidas, algumas drásticas, mas que temos de compreender, O coronavirus mata mesmo. Temos que ter essa consciência.

Um feliz fim de semana