Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram publicados.
OS TEMPOS NÃO
ERAM FÁCEIS
No jantar do
Dia de Natal e do Dia de Ano Novo, comia-se perú assado no forno.
Uns dias
antes do Natal, ia com o meu pai ao Lavradio buscar dois perús, que tinham
vindo do Alentejo, criados a bolota e tudo o que há (ou havia) nos montados
alentejanos.
Na Estação
Sul e Sueste apanhávamos o barco para o Barreiro, ainda a vapor.
Depois a
camioneta do José Cândido Belo para o Lavradio, onde vivia um tio que
trabalhava na CUF.
Mais de
meio-dia de viagens, acreditem.
Os perús
vinham, vivos, em dois cestos de verga.
O do Natal
era logo embebedado com bagaço, depois temperado pela minha avó materna.
O do Ano Novo
ficava dentro do tanque de lavar a roupa, ia comendo uma mistura de pedacinhos
de couve e milho, e a aguardar a bebedeira antes de entrar no forno.
Com tudo isto
gastava-se dinheiro que ultrapassava o mais que parco orçamento caseiro.
Dinheiro que
iria fazer falta nos restantes dias, mas, festa é festa, e o Natal e o Ano Novo
eram sagrados.
Para os males
monetários, é que havia Casas de Penhores.
Nunca comi
perú assado, como aquele que, depois de maneira única temperado pela minha avó,
era assado, muito lentamente, no forno.
Arroz de
miúdos, batatas fritas às rodelas, salada de alface.
Tangerinas,
mas tangerinas mesmo.
O arroz doce
apresentava-se em pires, com a primeira letra do nome dos convivas, desenhada
com canela.
Legenda: imagem Shorpy
Texto publicado em 1 de Janeiro de 2017
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