Já não lembra onde leu a frase, mas guardou-a
bem. Porque ela lhe traz o gosto que tem por lareiras e, como tantas outras
coisas, não sabe explicar o encantamento de ficar a olhar o lume, a cumplicidade
silenciosa, melancolias incuráveis, como lhe dizia o Mário-Henrique Leiria que
também gostava do Natal.
E este tempo de Natal, que vai olhando os seus
últimos dias, traz-lhe sempre a ideia de frio, de lareiras. Sempre que se senta
frente a uma lareira, ocorre-lhe o título de um livro, póstumo, do Manuel da
Fonseca, À Lareira, Nos Fundos da Casa
Onde O Retorta Tem o Café, pela cadência que transmite, a lentidão das
conversas em redor do lúmi ou o suave silêncio que, por vezes, é bem melhor que
as faladuras.
Não tem lareira mas gostava de ter. Não tem terra, nasceu em Lisboa, e procura
na terra dos amigos esse cheiro antigo. Tornou-se um peregrino das lareiras dos
amigos, tira-lhes fotografias.
E dá-lhe para ouvir uma velha canção do Zeca
Baleiro que ele encaixa nas Outras Canções de Natal.
Faltam escassas horas para que estejamos num
novo ano.
Lembranças do Helder Pinho, anos 60 e picos, que
vivia na Rua da Manutenção junto ao Tejo que passa por Xabregas, a telefonar-lhe
aos gritos: «Eh pá! estou a ouvir a ronca
dos barcos no Tejo, bom ano, camarada» e ele a lembrar-se que o Helder
citava Baptista-Bastos na Cidade Diária,
livro que ele quase sabia de cor, também lembranças de José Saramago numa noite de
fim de ano de 1994, «a noite de Lanzarote
é cálida, tranquila. Ninguém mais no mundo quer esta paz?»
Sim, a vida, esta vida que, inapelavelmente,
pétala a pétala, vai desfolhando o tempo.
Não
se sabe o dia certo em que Beethoven nasceu, apenas o registo do baptismo que se realizou
em 17 de Dezembro de 1770 na Igreja de São Remígio em Bona.
O
importante é a existência de um ser genial a que deram o nome de Ludwig von
Beethoven.
Em
1793 escreveu no álbum de um amigo:
«Amar
acima de tudo a Liberdade»
Uma
vida complicada, um livre pensador, a sua rebeldia, a surdez, decepções várias
e traços fundamentais do seu ser como a melancolia, o destino, os amores
destroçados, desconhecia o valor do dinheiro.
Nos
primeiros dias do ano de 1797 escreve no seu Diário:
«Coragem!
Apesar de todos os desfalecimentos do corpo, o meu génio há-de triunfar. Eis-me
com vinte e cinco anos, é preciso que este ano revele o homem feito – Nada deve
ficar por fazer.»
Beethoven
sempre quis agarrar o Destino pela garganta, que ele não o haveria de vencer
mas, em 1802 numa carta a seus irmãos, falava de desespero e só a sua arte, é ele que o diz, o
conteve que pusesse termo à vida.
Morreu
em Viena no dia 26 de Março de 1827.
Neste
findar do ano falemos de Alegria – é possível?!! -podemos pararna Nona Sinfonia de Beethoven e reproduzo o que li no blogue Vera Veritas de João Pimentel Ferreira:
«O Hino
à Alegria é um poema do Poeta Alemão Friedrich von
Schiller que Ludwig van Beethoven adaptou para a letra do quarto
andamento da sua nona sinfonia. O mesmo hino serve de base ao Hino oficial da
União Europeia. Até agora as traduções para português ou careciam de serem
fidedignas à letra original de Schiller, ou sendo fidedignas, não respeitavam a
métrica e a rima do poema, para que se adaptassem à música de Beethoven.
Num
exercício matemático e poético, de encaixe silábico e usando algoritmos de
tentativa-erro para a métrica e para a rima, apresento-vos a primeira tradução
para português do Hino à Alegria,
que além de ser fidedigna ao espírito do poema original de Schiller, respeita
também a rima e a métrica do poema que Beethoven usou para o quarto andamento
da sua nona sinfonia, sendo assim adaptável à música que compõe o Hino da Alegria,
ou seja, o Hino da União Europeia.
Freude,
schöner Götterfunken
Tochter
aus Elysium,
Wir
betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine
Zauber binden wieder
Was die
Mode streng geteilt;
Alle
Menschen werden Brüder,
Wo dein
sanfter Flügel weilt.
Wem der große Wurf gelungen,
Eines
Freundes Freund zu sein;
Wer ein
holdes Weib errungen,
Mische
seinen Jubel ein!
Ja, wer
auch nur eine Seele
Sein
nennt auf dem Erdenrund!
Und
wer's nie gekonnt, der stehle
Weinend
sich aus diesem Bund!
Oh
Alegria, sois Divina
filha de Elísio
tornais ébria a Poesia
inspirais Dionísio
Nem costumes ou tradição
Vos reduzem o Encanto
criais-nos um mundo irmão
insuflais nosso Canto
Feliz de quem alcançou
ser-se amigo dum amigo
Quem doce dama ganhou
jubile-se comigo
Quem um só ente conquistou
seja citado no mundo
mas se na Alegria falhou
ficai só moribundo!
Legenda:
retrato de Beethoven pintado, em 1820, por Joseph Karl Stieler
Os netos, estávamos já a viver em pandemia,
não havia festas, saudaram-no da rua, quiseram lembrar-lhe a frase que volta e
meia lhes costuma dizer:
«Nasci em 45!»
Trouxeram a frase, o mais novo rabiscou um
desenho, e ali tudo ficou, naquela parte da estante onde está o creme do creme
dos livros da biblioteca da família: José Gomes Ferreira. Saramago, Mário de
Carvalho, Rodrigues Miguéis.
Esta noite, sairá e tem como rumo, ou destino
final, o baú das memórias.
Quando há dias Mr. Ié-Ié colocou por aqui a fotografia
da placa, que num edifício em Lisboa, nos diz que ali viveu Luis de Sttau
Monteiro, ficou à conversa com JC a lembrar um escritor que caiu no completo
esquecimento.
Contou então que fora na “Livraria Anglo-Americana,” ali no Cais do Sodré, Rua
Bernardino Costa, 32, Lisboa 2 – Telefone 327703, que comprara a
edição-fora-do-mercado de “Terra Santa”, que valeu a Sttau Monteiro uns tempos
passados em Caxias.
7 de Abril de 1967
O Magalhães Godinho, esta tarde:
O Supremo Tribunal de Justiça negou, por unanimidade o “Habeas Corpus” ao Sttau
Monteiro.
E com voz nítida e articulada, para o futuro ouvir bem, repetiu:
- POR UNANIMIDADE.
A palavra “unanimidade” ainda conseguiu assombrar o grupinho…
Nem um, ao menos? Nem um juiz, ao menos?
José Gomes Ferreira em “Dias Comuns”, Vol. II
Eduardo Olímpio, alentejano de Santiago do Cacém, não teve lições de livros
doirados, nasceu entre as dobras de ventos e trigos mas nunca traiu os amigos,
como diz numa canção de que é autor, ou “um cavalo de perder corridas” como
gostava de se chamar, foi, até ao seu encerramento, empregado da “Livraria
Anglo-Americana”.
Com ele estabeleceu laços de amizade e cumplicidade. Quando certos livros
chegavam à livraria, e ele sabia que não tardaria muito que a PIDE por lá
passasse para os apreender, guardava um exemplar. Sabia o que esta casa
gastava.
Gratas recordações. Conversas sem fim.
Pena a “Zarzuela” não ter um bagaço decente para
acompanhar a bica enquanto se olham as raparigas, dizia o Eduardo já com a
cara a avermelhar.
Ao Lado da “Anglo-Americana” havia a Pastelaria “Caneças”. Tempos depois do 25
de Abril, a “Caneças” transformou-se em Boutique do Pão e mais tarde amplia as
suas instalações comprando a “Anglo-Americana", onde se vendia um outro
tipo de pão.
Um pão vale mais que um Shakespeare?
Alguém a murmurar: words words, words…
Em redor da “Anglo-Americana” havia todo um mundo daquilo que todos chamavam
porta-aviões.
A barra mansa do “British-Bar”, o velho “English-Bar”, quase um clube inglês
daqueles dos romances policiais, hoje está lá uma cervejaria, do outro lado da
rua o “Bar Americano” onde o José Cardoso Pires se sentava em silêncio, copo de
whisky sobre a mesa e, ao lado, o “Califórnia”, café, restaurante, bilhares na
cave, também barbeiro e manicure, kioske de jornais e revistas e o António, ao
findar-da-tarde-quase-noite, a fritar uns “pregos”, carregados de alhos, ovo a
cavalo, fininhos com dois dedos de espuma.
E se ele um dia perde a memória de tudo isto?
Não quer pensar nisso, chega à janela das traseiras e grita: – “Oh Incas, oh
incas, oh sol d’Asía!”.
PS - O título do “post” é roubado ao Mário-Henrique Leiria, a fotografia é
tirada, num dia cinzento, por um incrível caixote Kodak, máquina que deixou
numa qualquer mesa, num qualquer balcão. A “Anglo-Americana” é naquela esquina
onde se pode ver um reclame aos cigarros “Chesterfield”.
Para completar as “Memórias” de ontem, ficam aqui três
fotografias.
A da“Livraria Anglo-Americana”, hoje está lá a “Caneças”, boutique
do pão, uma fotografia do “British Bar” e outra do “English-Bar”.
Foram tiradas no mesmo dia cinzento, provavelmente no ano de 1977, mas nunca
depois desse ano.
Quando José Cardoso Pires desenha para a “Expo 98” o seu “Lisboa
Livro de Bordo”, já o “English-Bar” não existia.
Transformara-se na cervejaria que ainda hoje lá está. Daí que, no que ao Cais
do Sodré diz respeito, Cardoso Pires apenas referir o “British-Bar” e
o “Bar Americano” que ainda por lá se encontra mas não é nada do
que era e que de bar só ficou o nome. Situa-se em frente à “Caneças”.
Esta fotografia do “British-Bar” é de
antes da remodelação que se verificou após as filmagens de A Cidade Branca de
Allain Tanner.
Ponto de encontro, a qualquer hora do dia e da noite, de trabalhadores de
agentes de navegação e agentes transitários, “ship-chandlers”, um
pouco de tudo que à navegação, naquele tempo, dizia respeito.
O antigo dono levou o papagaio (ou arara?), bem como o relógio com os ponteiros
a andarem em sentido contrário, relógio que aparece no filme A Cidade
Branca.
O problema do relógio, o Silva resolveu: mandou vir um outro de Copenhague.
Papagaio (ou arara?) nunca mais houve.
José Cardoso Pires no seu "Livro de Bordo":
“No British Bar os anos passam, as gerações mudam, vêm literatos, vêm
contrabandistas, vêm estivadores à mistura com meninas de civilização, mas o
espírito e a cor local mantêm-se inconfundíveis. Tem um sabor a cais sem água à
vista, este lugar.”
O “English-Bar” era uma sala espaçosa
com maples de couro, como nos velhos clubes ingleses, um ambiente mais calmo,
mais respeitável que o do “British”.
Para simplificar, dizer que era ali que parava o patronato das agências de
navegação.
Também tinha balcão e no bengaleiro estava pendurada uma bolsa com tacos de
golfe.
O "Bar Americano" era
diferente do “British” e do “English”.
Uma sala pequena, um balcão de madeira, também paredes de madeira. Um bar de
silêncios.
Como todos os bares do Cais do Sodré, a clientela era constituída por
trabalhadores de agências de navegação e similares.
Uma conclusão simples: dos três bares o “British” era o bar
popular, o bar de toda a gente.
E para que o retrato fique um pouco mais composto, voltamos ao “Livro
de Bordo” do José Cardoso Pires, ele que um dia disse que um “barman” é
um comandante do prazer:
Não há dúvida, os bares são realmente navegações pessoalíssimas. Do outro
lado da rua tenho “O Americano” que, como figura de proa, não ostenta um
relógio de intrigar mas um possante urogalo embalsamado num altar de parde. Em
tempos foi um balcão de suevos, daneses e britânicos, funcionários, todos eles,
das agências de navegação do Cais do Sodré, e aqui, hoje que o dia está de
feição, torno a tropeçar noutro poeta: Pessoa. O Pessoa, sempre o Pessoa, o
Pessoa, nosso fadário. Também ele, nos gloriosos anos trinta, frquentava “O Americano”
às horas litúrgicas dos “morning drinkers”. Navegações é o que eu digo. Nos
bares do Cais do Sodré ninguém está livre de apanhar com uma porta à deriva
pela proa.
Hoje “O Americano” perdeu lastro, balança à tona dum passado de bebedores em
inglês, reflectidos no “gin-tonic” ou no “sling”. Está quase em seco, como se
vê, sem esses navegantes de balcão; e a emoldurar a sua solitude exibe
calendários de “shi-chandlers” com navios de grande curso a fumegarem nas
paredes.
José Cardoso Pires sentado a uma mesa do "Bar
Americano". Desconheço a data da fotografia, que foi retirada de
um número da revista "Ler" editada pelo "Círculo
de Leitores."
Tive sempre o pressentimento
de que as Lojas com História era
apenas uma ideia, talvez se possa dizer uma ideia interessante. mas apenas isso
ou histórias para camelos como diria o Fernando Assis Pacheco
Quando chegasse a
especulação do imobiliário, adeus lojas, adeus história, adeus ideias
interessantes, adeus Lisboa.
Chegou agora a vez do
Bar Americano, ali ao Cais do Sodré.
Do site das Lojas com História, retiro este paleio:
«O Bar Americano foi inaugurado em 1920 no coração de uma zona
ribeirinha conhecida pelos seus bares. Rapidamente assimilou o ambiente
multilíngue e multiétnico - marinheiros de todas as partes do mundo, turistas
(mas menos do que hoje), diversos artistas e gente da noite, seja por profissão
ou profissão. Dos muitos milhares de convidados que já recebeu, a memória
tende a ficar naqueles nomes atemporais, como os dos escritores José Cardoso
Pires e Alexandre O'Neill, que aqui sentavam e escreviam, festejavam ou apenas
passavam o tempo /noite.
O Bar Americano é um dos três bares de influência anglo-saxônica da região -
entre Corpo Santo e Cais do Sodré. Cardoso Pires, frequentador destes bares,
escreveu numa crónica intitulada De bar em bar.»
Não ponho mais paleio
porque o resto até refere que o Bar Americano tem uma enorme tela de televisão que
atrai numerosos espectadores em dias de jogo de futebol.
O Americano era um
bar de silêncios, cuja única música que se ouvia, era o tilitar do gelo nos
copos.
Foi aí que ouvi que,
em conversa pacata e feliz, a descrição do que é um barman: «o que ouve é como não tivesse ouvido, o que
vê é como não tivesse visto.»
Fechou um dos bares
mais antigos de Lisboa e que, neste ano prestes a findar, completou 100 anos.
Naquele enorme
quarteirão nascerá mais um Hotel.
Deixo-vos a seguir umas
memórias de tempos que já foram, notáveis tempos.
São lúgubres estes
tempos de crise pandémica.
Estamos a tentar
sairmos vivos, mas o galho está difícil!
Dizem os noticiários
televisivos que está e decorrer a reestruturação da TAP, com a necessária
benção da Comissão Europeia.
Dizem os
noticiários televisivos que Ramiro Sequeira, que ocupa o cargo de presidente executivo da TAP, de forma interina desde
meados de Setembro, passou a receber 35 mil euros brutos por mês com a subida à
liderança da companhia aérea, quase o dobro do que ganhava no anterior cargo de
administrador.
Dizem os noticiários
televisivos que também o presidente do conselho de administração da TAP, Miguel
Frasquilho, teve um aumento salarial – de 12 mil para 13,5 mil euros brutos por
mês, que Alexandra Vieira Reis, que já era directora da TAP e também foi
para a comissão executiva, ganhava 14 mil euros mensais e passou a receber
25 mil euros por mês.
Os noticiários televisivos
são omissos sobre o despedimento de 1800 trabalhadores da TAP, e o corte de vencimento
aos trabalhadores que vão permanecer na companhia.
Os noticiários
televisivos são também omissos no vernáculo que, no café do bairro, se fez ouvir
quando o locutor televisivo leu a notícia.
Todos os anos, pelo
Natal, o Abílio oferece-lhe uma cassette (objecto em vias de extinção e o
Abílio queixa-se que, cada vez mais, se torna difícil encontrá-las).
Grava-lhe coisas “fixes”, coisas “velhinhas”, diz ele.
Como não tem misturador, o Abílio perde horas para que a cassette não tenha
“brancas” e as canções tenham um alinhamento.
De algumas das musiquinhas gosta, de outras não, mas isso é a velha história.
Poderia passar o Natal sem uma cassette do Abílio, mas não era bem a mesma
coisa. Um pouco como aqueles tios amalucados que aparecem na Festa de Natal:
incomodam quando estão; sentimos saudades quando faltam.
Foi a arrumar a cassette deste Natal em “su sitio”, onde há alguns anos alinha
as cassettes, oferecidas pelo Abílio, que se lembrou de uma tirada do livro AltaFidelidade, de Nick Hornby.
Foi reler e não achou disparatado fazer a transcrição:
Passei horas a alinhar a cassete. Para mim, gravar uma cassete é como
escrever uma carta – tenho de apagar muito, repensar e começar outra vez de
início, e eu queria que a cassete ficasse boa, porque… para falar verdade,
porque nunca tinha conhecido nenhuma mulher tão promissora como a Laura desde
que tinha começado a pôr música, e conhecer mulheres promissoras era parte da
profissão.
É difícil fazer uma boa cassete de compilação, tal como é difícil acabar uma
relação. É preciso abrir com uma música surpreendente, para captar a atenção
(comecei com “Got To Get You Off My Mind”, mas a seguir percebi que ela podia
não passar da primeira faixa do lado A se eu desse logo tudo, por isso
encaixei-a a meio do lado B), e depois sem se pôr uma mais enérgica ou mais
calma, e não se pode misturar música branca com música negra, a menos que a
música branca seja parecida com música negra, e não se pode pôr duas faixas do
mesmo artista ao lado uma da outra, a menos que se tenha posto todas aos pares,
e… oh, há imensas regras.
Seja como for, fartei-me de trabalhar, e ainda tenho meia dúzia de “demos”
antigas espalhadas pela casa, cassetes-protótipo em relação às quais fui
mudando de ideias. E na sexta-feira à noite, tirei-a do bolso do blusão quando
ela veio ter comigo, e seguimos caminho a partir dai. Foi um bom início.
A fotografia e o texto que a acompanha, encontrou-a no excelente blogue Largo da Memória, da autoria de Luís Eme,leitura diária que há longos anos não perde.
O Luís não esqueceu de mencionar:
«E sim, viviam pessoas nessa barraca, quando tirei o
retrato...»
Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para
lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
ÉRAMOS TANTOS À MESA
Primeiros anos da década de 60.
Os tempos não eram fáceis.
No jantar do Dia de Natal e do Dia de Ano Novo, comia-se
perú assado no forno.
Uns dias antes do Natal, ia com o meu pai ao Lavradio
buscar dois perús, que tinham vindo do Alentejo, criados a bolota e tudo o que
há (ou havia) nos montados alentejanos.
Na Estação Sul e Sueste apanhávamos o barco para o
Barreiro, ainda a vapor.
Depois a camioneta do José Cândido Belo para o Lavradio,
onde vivia um tio que trabalhava na CUF.
Mais de meio-dia de viagens, acreditem.
Os perús vinham, vivos, em dois cestos de verga.
O do Natal era logo embebedado com bagaço, depois
temperado pela minha avó materna.
O do Ano Novo ficava dentro do tanque de lavar a roupa,
ia comendo uma mistura de pedacinhos de couve e milho, e a aguardar a bebedeira
antes de entrar no forno.
Com tudo isto gastava-se dinheiro que ultrapassava o mais
que parco orçamento caseiro.
Dinheiro que iria fazer falta nos restantes dias, mas,
festa é festa, e o Natal e o Ano Novo eram sagrados.
Para os males monetários, é que existiam as Casas de Penhores.
Nunca comi perú assado, como aquele que, depois de
maneira única temperado pela minha avó, era assado, muito lentamente, no forno.
Arroz de miúdos, batatas fritas às rodelas, salada de
alface.
Tangerinas, mas tangerinas mesmo.
O arroz doce apresentava-se em pires, com a primeira
letra do nome dos convivas, desenhada com canela.
No dia 25 de Janeiro
de 1990, podia ler-se na London Review of
Books:
Numa visita
presidencial a uma quinta, a senhora Coolidge perguntou ao guia quantas vezes o
galo copulava diariamente. “Dezenas de vezes”, foi a resposta. “Por favor, diga
isso ao Presidente”, pediu a senhora Coolidge. Quando o Presidente passou pelo
galinheiro e foi informado em relação ao galo, perguntou: “Sempre com a mesma
galinha?” “Oh, não, senhor Presidente, com uma galinha diferente de cada vez.”
O Presidente acenou lentamente com a cabeça e disse: “Diga isso à senhora
Coolidge.”»
Há muito e muito
tempo, neste pequeno país, o confessor real admoestou D. João V pelas aventuras
fora do leito conjugal. Sua majestade não gostou e pôs o eclesiástico a galinha
de fricassé. Todos os dias, em todas as refeições, comia o mesmo. Farto do
pitéu, o abade implorou mudança de dieta.
«Está a ver meu bom
padre, nem sempre galinha nem sempre rainha.»
Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
DE SOLIDÕES
Aos poucos, vamo-nos despedindo do Natal, e relembrando
uma das mais interessantes e pungentes canções de Natal , Fairytale Of
New York dos Pogues com a Kirsty MacCall, sabemos que os rapazes
do coro da polícia de Nova Iorque cantavam Galway Bay, enquanto
os sinos tocavam por toda a cidade, ao mesmo tempo que José Tolentino Mendonça,
numa das suas excelentes crónicas no Expresso, abordando a
solidão do Natal, revelava que lera uma carta que o escritor Jack London
escreveu na manhã de Natal, de 1898, quando tinha 20 anos. e momentaneamente
abandonara as errantes vagabundagens no seu barco, pelas celebrações caseiras
do Natal:
«Mas no fundo dos rituais familiares a que ele assiste
(a abertura dos presentes diante da lareira acesa, o risos das crianças
felizes, os ornamentos aconchegantes, os reflexos de uma existência segura…)
descobre-se sempre mais como um estranho, e tudo aquilo que o deveria apaziguar
fá-lo afinal descobrir vencido, como se o seu “bilhete de lotaria da vida
tivesse o número errado”. Ele que passou a adolescência a saltitar entre
centros de reeducação, que teve de lutar para aguentar-se nos estudos, que,
para sobreviver, foi ardina, pescador furtivo, agente de seguros, caçador de
focas, pugilista e garimpeiro, ele homem de têmpera rija sente-se naquela manhã
vacilar, perdido dentro do grande puzzle que o Natal faz parte. A carta que
Jack London escreve é uma espécie de relatório do seu desconforto. Mas creio
que não é só isso. É também um documento sobre a grande solidão que o Natal
escancara».
Linhas à frente, José Tolentino pergunta:
“Porque é que o Natal faz sofrer?”
Guardei sempre um velho recorte do velho «Diário de
Lisboa» de 27 de Dezembro de 1976:
“António Manuel, de 14 anos, no dia de Natal,
lançou-se de uma janela do Coliseu do Porto, tendo sido conduzido ao Hospital
de Santo António sem fala e com várias fracturas.
O jovem, que é natural do lugar de Idanha, encontra-se numa fase de
recuperação, tendo começado já a articular algumas palavras”
O jornalista fechava assim a notícia:
“De acordo com estatísticas mundiais, a quadra do Natal regista sempre uma
subida de tentativas de suicídio, que alguns psicólogos identificam com uma
maior acuidade em relação à solidão em dias que a maioria das pessoas se reúne
para confraternizar.”
E sempre aquela canção de Brel, deixa-me ser a sombra da
tua sombra, a sombra da tua mão, a sombra do teu cão, mas não me deixes.
Ainda José Tolentino Mendonça:
«O Natal é atravessado por um dramatismo que nos
abala, pois nos retira do feérico entretenimento das perguntas penúltimas e nos
coloca perante as perguntas últimas.»
Disto e daquilo, vivemos
com todas as comodidades.
Mas é terrível e
trágico o preço a pagar.
Como deixou expresso
o poeta José Gomes Ferreira:
«Os filhos dos nossos filhos hão-de insultar-nos: “covardes! Que nos
deram um planeta sujo”»
Esta canção, What a Wonderful World, que também vem do
saco das não canções de Natal, é uma lindíssima canção, mas é uma mentira.
Tiremos o disfarce e
não veremos nem as florestas verdes, nem as rosas vermelhas, nem o céu azul, antes
angústias derramadas em pontes sobre águas turbulentas, para lembrar uma canção
de Paul Simon.
Esta canção é também
pretexto para vos ler um bonito texto de Truman Capote sobreLouis Armstrong tirado de Os Cães Ladram:
«Com certeza que o Satch já se esqueceu, mas a verdade é que foi um dos
primeiros amigos deste escritor, conheci-o com quatro anos, por volta de 1928,
quando ele, um Buda achocolatado e rechonchudo de uma intrépida felicidade,
tocava a bordo de um barco a vapor turístico entre Nova Orleães e St. Louis.
Não interessa porquê, mas eu tinha a oportunidade de fazer a viagem amiúde, e
para mim a doce revolta do trompete de Armstrong, a exuberância coaxada dos
seus apartes, «’come to me, baby», são um pedaço da madalena de Proust; fazem
ressurgir as luas do Mississípi, convocam as luzes enlameadas de vilas
ribeirinhas, o som das sereias do rio como bocejos de um crocodilo; ouço a
corrente do rio mulato a rumorejar, ouço, sempre, tump! Tump! a batida do pé
sorridente do Buda, abrindo caminho aos gritos pela «berma soalheira da rua» e
os dançarinos em lua-de-mel, estonteados do álcool de contrabando e suando
através do pó de talco, abraçados como coelhinhos às voltas pelo salão de baile
do barco. O Satch foi bom para mim, disse-me que eu tinha talento, que devia ir
para o teatro de revista; deu-me uma cana de bambu e um chapéu de palha com uma
fita verde-hortelã, e todas as noites anunciava do alto do palanque:
- Minhas e meus senhores, vamos agora apresentar-vos um dos miúdos
simpáticos da América que vai fazer um pequeno número de sapateado.
Depois eu passava pelos passageiros a recolher moedinhas no chapéu.
Isto passou-se todo o Verão, fiquei rico e vaidoso; mas em Outubro o rio
engrossou, a lua embranqueceu, os clientes começaram a rarear, as viagens de
barco terminaram e com elas a minha carreira. Seis anos mais tarde, a morar num
internato de onde queria fugir, escrevi ao meu antigo benfeitor, já então
famosos, a perguntar-lhe se ele não me podia arranjar um emprego no Cotton
Club, ou noutro sítio, se eu fosse para Nova Iorque. Não obtive resposta,
talvez ele nunca tenha recebido a carta, não faz mal, eu continuei a gostar
dele, ainda gosto.»
Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
SARAMAGUEANDO
Estes pequenos filhos dos homens têm andado pelas
minhas crónicas. Mas de crianças tenho falado como quem as conhece bem, só
porque também por lá passou. E agora pergunto: que são as crianças? Dez mil
pedagogos se preparam para me responder. Afasto de antemão as respostas, umas
que já conheço, outras que adivinho, e torno a perguntar: que são crianças?
Que seres estranhos são esses que viram para nós os seus rostos frescos, que
nos perturbam às vezes com um olhar subitamente profundo e sábio, que são
irónicos e gentis, débeis e implacáveis, e sempre tão alheios? Temos pressa de
os ver crescer, de os admitir no clã dos adultos sem surpresas. Somos
impacientes, nervosos, porque estamos diante de uma espécie desconhecida...
Quando passam a ser nossos iguais, falamos-lhes da infância que tiveram (a que
recordamos, como observadores do lado de fora) e sentimo-nos quase ofendidos
porque eles não gostam de ouvir lembrar uma situação em que já não se
reconhecem. São adultos, agora: outra espécie humana, portanto.
Nessa infância está, por exemplo, a história que vou contar e que devo a um
desses tais encontros de acaso. E depois de eu a reproduzir aqui, dir-me-ão se
não tenho razões para insistir: é preciso cuidado com as crianças... Não o
cuidado comum, que tende a prevenir acidentes, aqueles que aparecem sob esta
rubrica nas notícias dos jornais, mas um outro cuidado, mais melindroso e
subtil. Eu explico.
Uma professora mandou um dia aos seus alunos que fizessem uma composição
plástica sobre o Natal. Não falou assim, claro. Disse uma frase como esta:
«Façam um desenho sobre o Natal. Usem lápis de cores, ou aguarelas, ou papel de
lustro, o que quiserem. E tragam na segunda-feira.» Assim ou não assim, os
alunos fizeram o trabalho. Apareceu tudo quanto é costume aparecer nestes
casos: o presépio, os Reis Magos, os pastores, S. José, a Virgem e o Menino
Jesus. Mal feitos, bem feitos, toscos ou apuradinhos, os desenhos caíram na
segunda-feira em cima da secretária da professora. Ali mesmo ela os viu e
apreciou. Ia marcando «bom», «mau», «suficiente», enfim, os transes por que
todos nós passámos. De repente... Ah, mas é preciso muito cuidado com as
crianças! A professora segura um desenho nas mãos, e esse desenho não é melhor
nem pior que os outros. Mas ela tem os olhos fixos, está perturbada; o desenho
mostra o inevitável presépio, a vaca e o burrinho, e toda a restante figuração.
Sobre esta cena sem mistério cai a neve, e esta neve é preta. Porquê?
«Porquê?», pergunta a professora, em voz alta, à criança. O rapazinho não responde.
Talvez mais nervosa do que quer mostrar, a professora insiste. Há na sala os
cruéis risos e murmúrios de rigor nestas situações. A criança está de pé, muito
séria, um pouco trémula. E, por fim, responde: «Fiz a neve preta porque foi
nesse Natal que a minha mãe morreu...»
Daqui por um mês chegaremos à Lua. Mas quando e como chegaremos nós ao espírito
de uma criança que pinta a neve preta porque a mãe lhe morreu?
No dia 25 de Novembro
de 1976, Mário Castrim, no seu Canal da Crítica intercalou os últimos momentos
de vida do pintor e militante comunista José Dias Coelho com a crítica de
televisão.
Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
A MORTE SAIU À RUA NUM DIA ASSIM
O escultor José Dias Coelho foi assassinado pela PIDE no
dia 19 de Dezembro de 1961, na Rua da Creche, rua que hoje tem o seu nome,
junto ao Largo do Calvário.
O assassinato está assinalado na canção de José Afonso A Morte Saiu à Rua do álbum Eu Vou Ser Como a Toupeira, gravado
em 1972.
Antes de ser assassinado, José Dias Coelho estivera em
casa de Mário Castrim que, na altura, morava na Rua Luís de Camões, perto da
estação dos carros eléctricos e autocarros de Santo Amaro.
No livro Viagens, o poema Viagem
Através de Uma Fatia de Bolo-Rei, Mário Castrim regista esses
últimos momentos de vida de José Dias Coelho:
Corria o ano de 1961. Estávamos à porta do Natal. Eram quase duas horas da manhã
e eu perguntei-lhe
se queria comer alguma coisa.
Disse que sim. Mas que
estava com muita pressa.
Enquanto vestia a gabardina, trouxe-lhe
uma sanduíche de fiambre
um copo de vinho
uma fatia de bolo-rei.
Estava de pé
comia como se fosse a primeira vez
desde a infância.
- Há quantos anos
deixa cá ver
há quantos anos é que eu não comia
bolo-rei?
Este é bom, sabe a erva-doce
e a ovos.
(Caíam-lhe migalhas
aparava-as com a outra mão
em concha)
- Comes outra fatia, camarada?
- Isso não.
Estou atrasado já.
Mas se ma embrulhasses...
Através da janela
do quarto às escuras
fico a vê-lo atravessar a Rua da Creche
seguir pela Rua dos Lusíadas.
Nenhum de nós sabia
que estava já erguida a pirâmide do silêncio
à espera dele
num breve prazo.
Quando talvez o gosto do bolo-rei
mais forte do que nunca
tivesse ainda na boca.
Funcionário clandestino do Partido Comunista, José Dias
Coelho seguia pela Rua dos Lusíadas, quando cinco agentes da PIDE, saltaram de
um automóvel e alvejaram-no, à queima-toupa, com um tiro no peito, e dispararam
outro tiro quando já se encontrava por terra.
No nº 9, referente a Março de 1962, de Notícias do Bloqueio, Pedro Alvim, no
poema intitulado Lisboa, assinala o
assassínio de Dias Coelho:
4 – Alcântara
Há quem tombe por um rio
Impetuoso e comum:
Alcântara dos tiros cegos
Alcântara sessenta e um.
No dia 24 de Novembro de 1976, começava, no 1º Tribunal
Militar Territorial de Lisboa, o julgamento do ex-agente da PIDE António
Domingues, acusado de ter assassinado José Dias Coelho, julgamento que só
terminaria no ano seguinte:
Na 1ª página do “Diário de Notícias”, de 6 de
Janeiro de 1977, lia-se:
«O antigo agente da PIDE/DGS António Domingues,
responsável pela morte do escultor comunista José Dias Coelho, foi, ontem,
condenado em três anos e nove meses de prisão maior. Perdoados 90 dias e tomado
em conta o tempo de prisão preventiva que já sofreu, desde 1974, vai o réu
cumprir apenas mais cerca de 10 meses de cadeia. O tribunal (3ºTMTL) considerou
não ter havido homicídio voluntário, mas apenas “ofensa corporal voluntária, de
que resultou a morte “praeter-intencional”. Dado como provado o disparo de dois
tiros, o último dos quais com a arama “muito próxima da roupa da vítima, a
sentença foi recebida pela assistência com uma manifestação de protesto.»
No editorial do Diário
de Lisboa, também de 6 de Janeiro, lia-se:
«Na verdade, reconhece-se a legitimidade da
“profissão” de assassino de adversários políticos de um regime. É um insulto à
memória de José Dias Coelho.
Um insulto aos mortos e aos vivos da resistência
antifascista.
Um insulto ao 25 de Abril.»
Legenda: A imagem de topo é uma gravura de
José Dias Coelho, representando o operário Cândido Martins, assassinado na
frente da manifestação do Barreiro contra a burla eleitoral e publicada
no “Avante” nº 130 de Novembro de 1961. Para a que seria a sua
última gravura, José Dias Coelho escreveu: “De todas as sementes
deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais
copiosas searas”
A Academia Portuguesa
de Cinema vai ter de abrir nova votação para escolher um filme candidato de
Portugal ao Óscar de melhor filme estrangeiro, depois de a Academia
norte-americana de cinema ter rejeitado a proposta inicial de Listen, o filme de Ana Rocha de Sousa,
por este ser maioritariamente falado em língua inglesa sendo um dos critérios de elegibilidade a obrigação
que pelo menos 50% do filme candidato seja falado em língua não-inglesa.
O filme que
arrecadou seis prémios no Festival de Veneza, retrata a história de um casal
imigrante português em Londres, e, além dos diálogos em inglês, tem uma parte
considerável de diálogos em português e em língua gestual.
A Academia portuguesa de Cinema terá de indicar outro
filme. Os candidatos serão Mosquito, do
realizador João Nuno Pinto, Patrick
do realizador Gonçalo Waddington e Vitalina
Varela, do realizador Pedro Costa .
1.
Em entrevista, a
Comissária Europeia Elisa Ferreira, disse: a Comissária Europeia Elisa Ferreira
«Ao fim destes anos todos de apoio maciço de fundos
estruturais, Portugal é ainda um país atrasado” que deve aplicar o dinheiro “de
uma forma radicalmente diferente da reprodução do passado»
2.
Os contribuintes já perderam quase 21 mil milhões de
euros a ajudar, nos últimos 12 anos, os bancos.
3.
Mais uma demissão entre os inspectores do SEF. Passam a
ser 13 com processos dosciplinares.
Eduardo Cabrita continua ministro.
Até quando?
4.
A viúva de Ihor Homenyuk, o cidadão ucraniano assassinado
no aeroporto de Lisboa por inspectores do SEF, pediu às televisões portuguesas,
ávidas de circo mediático que lhes dê audiências, que a deixem em paz.
5.
Na Europa dos 27, Portugal, em tempos um pais de
emigrantes para França, Alemanha, Brasil, Estados Unidos, é um dos que menos
emprega imigrantes.
6.
Numa das suas
crónicas no Expresso, José Tolentino
de Mendonça diz-nos que é realmente impossível viver sem os outros e que a
morte, segundo o poeta Paul Célan, é uma
flor porque floresce quando quer, mesmo fora da estação.
«Somos criaturas terrenas e seres destinados a realizar a experiência
da morte. Pensar o que é a morte corresponde, deste modo, a abraçar o que a
vida é», diz Tolentino Mendonça.
Sobre a morte não
sabemos o que dizer, nem o que pensar
É tão estranho
que entre a avalancha de saberes úteis e inúteis que acumulamos uma vida
inteira, não esteja este: aprender a morrer.
Sabemos então que pouco ou nada
aprendemos sobre despedidas.
Guardo esta
frase de Vitor Cunha Rego, que foi, entre outras coisas, director do Diário
de Notícias:
«A pessoa preparar-se para a morte é a grande finalidade da vida.»