quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

PRELÚDIO DE NATAL


Tudo principiava

pela cúmplice neblina

que vinha perfumada

de lenha e tangerinas

 

Só depois se rasgava

a primeira cortina

E dispersa e dourada

no palco das vitrinas

 

a festa começava

entre odor a resina

a gosto a noz-moscada

de paisagens alpinas

 

E a multidão passava

E a chuva era tão fina

que parecia filtrada

de taças clandestinas

 

Finalmente chegava

triunfal    em surdina

a noite convocada

em todas as esquinas

 

Mas não se derramava

Como tinta-da-china

Na cidade acordada

já se ouviam matinas

 

David Mourão-Ferreira de Cancioneiro de Natal em Obra Poética

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