Surda languidez ao pé das palmeiras
Hoje seria Natal exactamente Natal
A ramagem e o fruto graxo sobre o galho
verdejam
exércitos de insectos zunem em círculos eternos
Surda languidez ao pé das palmeiras
o leque de sombras da floresta
assusta a ave-do-paraíso
Penso na pátria e pensativo fito o chão
se a terra fosse transparente
daqui poderia enxergar debaixo de todas as saias da Europa
Pés brilham e deslizam entre babados
como as dançarinas
de Paris em passos rápidos sobre folhas de espelho
Penso em seus ombros nos ombros apenas
nos olhos nos lábios nos cabelos
e nos seios principalmente nos seios
Quantas amei quantas belas e brancas
chuva de rosas dos meus pés à cabeça
Uma única mulher negra me pertenceu
Surda languidez ao pé das palmeiras
Caminho aqui de cabeça para baixo
como se andasse sobre o tecto
Abaixo de mim profundeza brilha a voragem celeste
caminho feito Cristo vergado debaixo do Cruzeiro do Sul
Do outro lado do mundo os homens
correm correm ao avesso
Só fico pensando em seus sapatos de sola furada
Seus pequenos passos de criança
em jardins furta-cor
lançam folhagem sangrenta para baixo
A terra dos checos estende-se na outra parte do mundo
terra exótica e estranha
com rios profundos e fabulosos
pode-se atravessá-los de pés secos no dia onomástico de Jesus
temos outono inverno verão e primavera
As pessoas usam sobretudo gravatas
e bengalas
talvez esteja nevando agora
talvez a cerejeira esteja em flor
Amoras abundantes estão crescendo
E há água potável fresca
Konstantin Biebl, tradução de Aleksandar Jovanovic em Rosa do Mundo
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