sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

DEZEMBRO


 Trago ao pescoço terço e alfaia,

Contas de névoa e fé ferrugenta;

A cal do cemitério já desmaia…

- As flores viu-as a morte ciumenta!

 

Frita-se na ribeira açucarada

(E vezes sem conta na mesma água)

Outro Natal de farinha amassada –

- Memória que tiveram eu pago-a!

 

Os cães que ladram no cimo do povo

Tão sempre os mesmos e tão longínquos –

- já parecem à noite algo de novo…

 

Ladram às estrelas, regressam tudo:

Os bailes de Verão, o cheiro a fumo

- E a roupa, mãe, onde é que arrumo?

 

Rui Lage, poema retirado da Antologia Natal… Natais

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