Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
UM CANTINHO BOM DO
ANO
O Natal será sempre o encanto e a ternura da
impossibilidade.
Karl Valentim preferia que cortássemos do calendário o Dia De Natal, se com
isso conseguíssemos que os restantes 364 dias do ano fossem todos de Natal.
Gostaria que o Natal não tivesse o carácter de que se tem revestido nos últimos
anos: um consumismo desenfreado que dele fazem o dia mundial da hipocrisia.
As noites de Natal, aquelas que não mais posso repetir, passava-as em casa do
meu pai, a família mais chegada, a comer bacalhau cosido com couves, a beber
vinho tinto alentejano, a conversar pela noite fora, rematando-se a festa com
carne de porco frita envolta em ovos mexidos, a que se seguiam os doces, umas
fatias douradas, filhós e uns cálices de licor de ginja que, por Junho, se
tinha colocado a marinar numa grande garrafa de vidro, juntamente com açúcar,
aguardente branca, um pau de canela.
Tentamos fazer o mesmo com os filhos, alcançar a reinvenção dessas noites
felizes, mas é mais que certo: nunca se volta aos sítios onde fomos felizes.
Há coisa melhor que o Natal?
Há: os amigos!
E que mais podemos querer do que um amigo para nos acender o dia, e que esse dia seja Natal?
O Natal é um cantinho bom do ano, um aconchego.
Texto publicado
em 19 de Dezembro de 2018
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