segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

NATAL, AINDA?

Que longa espera, noite fora!

Virá o anjo? Trará recado?

Na solidão que o apavora,

O velho corre o coração de lado a lado.

 

Recorda um deus: um deus criança,

Sem a ciência entre os doutores.

E sem espada. E sem balança.

Coroado de inocência e flores.

 

A bela imagem diluída

De uma passada madrugada

Que lhe foi vida,

Antes de a vida não lhe ser nada.

 

Conformar-se, porquê, com o Natal dos velhos?

Cenário literário dos Natais:

A manta nos joelhos,

Lareira acesa, a mesa com cristais…

 

A neve, sim, que a tem

No cabelo e também no coração.

— Nascerá hoje alguém

Que o leve, puro e ardente, pela mão?

 

António Manuel Couto Viana, poema  tiradoda antologia Natal…Natais

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