quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

CAIS DO SODRÉ 77

Para completar as “Memórias” de ontem, ficam aqui três fotografias.

A da“Livraria Anglo-Americana”, hoje está lá a “Caneças”, boutique do pão, uma fotografia do “British Bar” e outra do “English-Bar”.

Foram tiradas no mesmo dia cinzento, provavelmente no ano de 1977, mas nunca depois desse ano.

Quando José Cardoso Pires desenha para a “Expo 98” o seu “Lisboa Livro de Bordo”, já o “English-Bar” não existia. Transformara-se na cervejaria que ainda hoje lá está. Daí que, no que ao Cais do Sodré diz respeito, Cardoso Pires apenas referir o “British-Bar” e o “Bar Americano” que ainda por lá se encontra mas não é nada do que era e que de bar só ficou o nome. Situa-se em frente à “Caneças”.

Esta fotografia do “British-Bar” é de antes da remodelação que se verificou após as filmagens de A Cidade Branca de Allain Tanner.
Ponto de encontro, a qualquer hora do dia e da noite, de trabalhadores de agentes de navegação e agentes transitários, “ship-chandlers”, um pouco de tudo que à navegação, naquele tempo, dizia respeito.

O antigo dono levou o papagaio (ou arara?), bem como o relógio com os ponteiros a andarem em sentido contrário, relógio que aparece no filme A Cidade Branca.
O problema do relógio, o Silva resolveu: mandou vir um outro de Copenhague. Papagaio (ou arara?) nunca mais houve.

José Cardoso Pires no seu "Livro de Bordo":

“No British Bar os anos passam, as gerações mudam, vêm literatos, vêm contrabandistas, vêm estivadores à mistura com meninas de civilização, mas o espírito e a cor local mantêm-se inconfundíveis. Tem um sabor a cais sem água à vista, este lugar.”

“English-Bar” era uma sala espaçosa com maples de couro, como nos velhos clubes ingleses, um ambiente mais calmo, mais respeitável que o do “British”. 

Para simplificar, dizer que era ali que parava o patronato das agências de navegação.

Também tinha balcão e no bengaleiro estava pendurada uma bolsa com tacos de golfe.

Texto publicado em 5 de Junho de 2010.

1 comentário:

Luis Eme disse...

Felizmente temos os livros para nos recordar que existiu uma "Outra Lisboa", com vida própria, diferente, mais autêntica, com lisboetas e com gente de fora que não vinha apenas ver as vistas, Sammy.

E não a lisboa a fingir, dos últimos anos, apenas para turista ver e para os "empreendedores" ganharem uns cobres.

Deixo aqui um abraço, grato pela companhia e pela partilha de saberes.

E que este "pesadelo" acabe rapidamente.