Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
NÃO É POSSÍVEL O
NATAL ASSIM…
Trago aqui palavras que encontrei na secção Cartas
à Directora do Público de 29 de Novembro.
Chamou-me à atenção o título.
Palavras simples e sinceras que qualquer um de nós
entende como uma das muitas tristezas que vão invadir este tempo que se queria
maravilhoso.
Não resisto a partilhar as palavras que a leitora
do Público, que vive no Porto e se chama Lídia Menezes,
escreveu:
Como se poderá ter Natal se há tantos, tantos e tantos que não o vão ter... As
crianças a quem roubam os sonhos, lhes tiram a infância...
Uma profunda tristeza com a desumanidade e violência nos cortes e mais cortes, nos subsídios, numa lista infindável e sempre inventada nos bolsos dos mais fracos. Uma profunda impotência...
Rostos fechados, desespero nos olhos e a esperança que fugiu das mão que agora se estendem a pedir esmola.
Não, não é possível um Natal assim! Nem para os autênticos Cristãos!
Como é possível destruir o que de mais sagrado existe em cada ser humano que é a dignidade e o direito ao Pão?
Tudo está bem e para nós, tudo cada vez pior!
Em que país vivem?
Quem são as pessoas?
O que significa respeito e dignidade?
O que enxergam nos seus horizontes? O coração fugiu? Se calhar sim, com medo dos cortes também!
Não vai restar pedra sobre pedra nem nenhum sorriso se atreverá a aparecer nos rostos dos que ainda sentem, porque alguns até deixaram de sentir - foram apanhados por tudo o que lhes dão a ver e a ouvir e acreditam, o que é mais grave.
Não, não vai haver Natal assim...
Haverá encenações para nos convencerem que sim. O pior é este cansaço de pensar ou já não querer pensar no amanhã.
Tudo se vai tornando em apatia e as vozes que tanto gritaram e cantaram a "Grândola Vila Morena" estão roucas, os pés que foram ás manifestações perguntam-se para quê. Será que o cansaço os venceu?
O Tribunal Constitucional que ainda vai travando esta loucura perdeu o respeito que lhe é devido e pretendem calá-lo, abafá-lo, destruí-lo para livremente escravizarem quem ainda tem o descaramento de lhes dizer não.
Não, não vai haver Natal assim...
Não é possível dar num dia e no ano inteiro, recusar e tirar. A hipócrisia tem limites!
A palavra solidariedade está banalizada, esvaziada, perdeu a sua profundidade e força e não lhe cabe a ela resolver o problema das carências quando se demitem os verdadeiros responsáveis pelos direitos humanos.
Escrevo para quê? Escrevo apenas porque sim, porque dói, porque dói muito e cada vez mais...
Já não consigo ouvi-los nem vê-los, apenas sonho viver sem eles.
Se Natal é dar, com quem aprenderam eles a tirar?
Texto publicado em 10 de Dezembro de 2013
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