Dizem que é o melhor
Bolo-Rei da cidade, o da Confeitaria Nacional, casa fundada em 1829, ali à
Praça da Figueira. O segredo da feitura do bolo nunca saiu portas fora.
Uma tarde, por um findar de ano, esteve hora e meia, na bicha, à espera de comprar o bolo. Não por ele mas por um amigo, chegado de Montalegre, que daquele bolo ouvira falar e nunca tinha comido.
Para ele não há problema. Gosta tanto de Bolo-Rei que os come de um qualquer
lugar: do Continente, do Minipreço, do Lidl, até da padaria aqui da rua.
Gosto de Bolo-Rei,
mas se me querem ver mesmo feliz é quando o encontro fora da época. Que querem?
Sempre foi assim e está velho para mudar. Também se perde por broas castelar…
Mas pode dizer que sim, que é bom o Bolo-Rei da Confeitaria Nacional, só que é
uma opinião, vinda de quem vem, em que não podem ter qualquer tipo de
confiança.
Está à vista o
porquê.
A Guida todos os natais me diz que o melhor Bolo-Rei é o da Pastelaria Garrett, ali para os
estoris, na Avenida Nice nº 54, Bolo-Rei chique, chiquérrimo. Passa horas para o comprar e entendo, que tanta generosidade merece a pequena mentira de sempre lhe dizer que sim, é o melhor Bolo-Rei que comi até aos dias de hoje.
O sorriso dela, o
entusiasmo, vale a mentira:
-Vês! Eu sempre te disse!...
E em final de prosa
fica aquele poema do Vasco da Graça, no tempo em que o Bolo-Rei tinha brinde e
fava e a quem saísse a fava a obrigação de em próximo Natal, ou quando
calhasse, comprar o bolo:
espero que me calhe aquela fava
que é costume meter no bolo-rei:
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais o partilhava
numa ordem das coisas cuja lei
de afectos e memória em nós se grava
nalgum lugar da alma e que destrava
tanta coisa sumida que, bem sei,
pela sua presença cristaliza
saudade e alegria em sons e brilhos,
sabores, cores, luzes, estribilhos...
e até por quem nos falta então se irisa
na mais pobre semente a intensa dança
de tempo adulto e tempo de criança.
Legenda: o anúncio da Pastelaria Garret é tirad do blogue Restos de Colecção.
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