Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
Tempo para invocar Tchaikovsky.
Quando o tempo era muito mais lento, a oferta musical de discos de música clássica, em vinil, era limitada e a Amazon ainda era um vago sonho na cabeça de alguém.
O advento dos Cds trouxe o que dantes se procurava e não encontrávamos.
Recordo-me de uma ou duas conversas sobre Shostakovich, do desejo que exprimia em ter a sua 7ª Sinfonia, Leningrad.
Não sei se alguma vez a ouviu quando, madrugada dentro, passava horas à procura de estações de rádio europeias.
Por mim falando, só há coisa de dois anos, graças a uma natalícia oferta do Mário, a conheci.
Coloco de lado a carga política da sinfonia, dedicada por Shostakovich às vítimas de Estalinegrado durante o cerco da Alemanha Nazi, em 1942, para dizer - dizer o quê? - que fiquei surpreendido, agradado, que senti uma alegria que começa e acaba no inexplicável.
E lamentar que, por desconfianças muito minhas, não a tenha ouvido mais cedo.
É bem provável que o meu pai, marxista-leninista que era, soubesse que Álvaro Cunhal reconhecia uma força artística, única a esta sinfonia, que era uma das suas peças sinfónicas preferida.
Naquele tempo não foi possível encontrá-la.
Mas estamos agora a ouvi-la.
Privilégios de quem gosta de sonhar que as coisas sejam assim…
Ou como diz o cego do costume: é preciso ousar
ser ingénuo.
Texto publicado
em 21 de Maio de 2013
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