sábado, 24 de julho de 2021

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...


Nesta semana, discutiu-se, na Assembleia da República, o Estado da Nação.

O governo que nos assiste diz-se de centro-esquerda, é mais centro que esquerda, mas é preferível a um governo de direita.

O governo tem ministros que não lembrariam ao careca, mas António Costa já disse que «não está prevista nenhuma remodelação no horizonte».

Penso que não será bem assim e, mais dia menos dia, teremos por aí remodelação, provavelmente para depois das eleições autárquicas.

Diga-se, no entanto, que a oposição, que tão mal diz do governo e dos ministros, é um perfeito desastre.

Rolava a bola há alguns minutos e Adão e Silva, líder parlamentar do PSD, saiu-se com esta pérola:

«No âmbito da saúde, senhor primeiro-ministro, que fique claro: nós, PSD, somos fundadores do Serviço Nacional de Saúde [SNS]. Estamos no SNS. E senhor primeiro-ministro, não é uma questão ideológica, é uma questão prática. É uma questão de sentido prático das coisas.»

Em Setembro de 1979, a lei do Serviço Nacional de Saúde foi aprovada na Assembleia da República com os votos do PS, do PCP, da UDP e do deputado independente Brás Pinto tendo votado contra todos aqueles que já, então, estavam contra o espírito da socialização da saúde, preconizado pelo deputado socialista António Arnaut: o PS, o CDS e os deputados independentes do PSD.

O governo pode ser a coisa terrível que as direitas dizem que é, ou querem que seja, mas, como oposição, são um perfeito desastre.

António Costa bem pode estar de cadeirinha a olhar.

1.

Bonita e justa homenagem.

O Auditório do Museu do Fado passou a chamar-se Auditório Ruben de Carvalho.

2.

No mínimo dos mínimos, deveria haver um médico e um enfermeiro de saúde pública por cada 20 mil habitantes.

3.

O Cardeal Angelo Becciu, ex-responsável pelas finanças, e afastado pelo Papa Francisco em Setembro do ano passado, é a figura mais alta do Vaticano a ser acusada de crimes financeiros: desvio de fundos, fraude e abusos do poder. Em causa estão 350 milhões de euros da Santa Sé,  aplicados num negócio de imobiliário em Londres.

4.

A Câmara Municipal de Lisboa tem cerca de 13.000 funcionários, ou seja um por cada 38 habitantes da cidade. Entre os funcionários da CML contam-se 381 advogados, 159 relações públicas, 443 arquitectos e 168 historiadores, entre muitas outras profissões.

5.

«Eu então vivo sozinho, absolutamente sozinho. Nunca falo a ninguém; não me dão, não dou nada a ninguém. O Autodidacta não conta. É verdade que há Françoise, a patroa do Rendez-vous dos Ferroviários. Mas pode dizer-se que falo com ela? Às vezes, depois do jantar, quando vem servir-me uma cerveja, pergunto-lhe:

«Esta noite você tem tempo?»

Nunca diz que não, e então sigo-a a um dos quartos grandes do 1º andar, que ela aluga à hora ou ao dia. Não lhe pago senão o quarto. Ela goza (precisa dum homem por dia, e além de mim, tem muitos outros) e eu purgo-me assim de certas melancolias cuja causa conheço perfeitamente. Mas mal trocamos algumas palavras. Para quê? Cada um por si; aos olhos dela, de resto, continuo a ser, antes de mais um freguês do café. Diz-me assim, ao despir o vestido:

«Ouça lá, você conhece um aperitivo chamado Bricot? É que houve dois fregueses, esta semana, que pediram. A rapariga não sabia, veio prevenir-me. Eram caixeiros viajantes; foi coisa que beberam em Paris, com certeza. Mas não gosto de comprar sem saber. Se não se importa, não tiro as meias.»

Jean-Paul Sartre em A Náusea

1 comentário:

Seve disse...

Então este Adão é pago por nós todos? Só pode ser um crápula, um mentiroso que, se houvesse dignidade, deveria ser expulso da Assembleia por estar a gozar com os portugueses!