sábado, 31 de julho de 2021

OLGA PRATS (1938-2021)


Morreu OlgaPrats.

Os nossos melhores vão partindo.

Fernando Lopes Graça morava na Parede. Olga Prats também. Numa noite de Verão, em que o acompanhava a casa, Olga Prats ouviu o Graça dizer:

«Eu agora não queria ficar sozinho, fosse quem fosse, homem ou mulher, rapaz ou rapariga, nem que fosse um cão.»

 Andei à procura de uma fotografia de um Concerto na Academia dos Amadores de Música em que o coro é acompanhado pela pianista Olga Prats e em que na pimeira fila da plateia se vê a cabeleira branca do poeta José Gomes Ferreira. Uma fotografia lindíssima mas estará por aí. Um dia destes caba por aparecer.

 Recordo um velho texto, datado de  23 de Junho de 2009:


GUILDA DA MÚSICA/SASSETTI - SST 3001 - s/data

Naqueles tempos em que se abriam janelas para que as correntes de ar pudessem entrar, batessem na cara, juntávamo-nos ao redor de discos e livros, trocávamos impressões, experiências e admitíamos aquele saber que guardamos nas dobras improváveis do tempo, que era possível a chegada de um dia claro. A isto se poderia chamar a memória da esperança. Era disto que se faziam os dias daqueles tempos.

"Lisboa tem suas barcas agora lavradas de armas".

Quando já depois de, ouvidos os discos, muito conversados, razoavelmente bebidos, o Zé Leal lembrava sempre que ficava na memória um som. Um som simples das ausências, das mãos que se fizeram abertas. Ficava também o silêncio. Depois era a debandada. A manhã a anunciar-se, era o começo de mais um dia de trabalho.

"Para a próxima quem é que trás os discos?”

Hoje já não servem as palavras com que dantes se faziam as conversas entre nós. Gastas as palavras, outros os olhares, diferentes os interesses.

Este EP de 33 rpm é o 4º Caderno de composições de Fernando Lopes Graça “compostas em estilo singelo para recreação da gente nova portuguesa – Oito Canções das Barcas Novas”.

Os poemas são de Fiama Hasse Pais Brandão, cantados por Celeste Lino, Manuel Pico, acompanhados, ao piano, por Olga Prats.

O disco, como habitualmente, não indica a data de gravação. Talvez 1972. O preço, esse, pode ver-se no canto superior esquerdo: 73 escudos e 50 centavos.

O texto de apresentação, incluído no disco, é de Mário Vieira de Carvalho, escrito num tempo em que era crítico musical e acreditava que existiam amanhãs para serem cantados.

Mais tarde, muito depois de escritas estas palavras, seria secretário de Estado da Cultura de um governo de José Sócrates. Dizem as más-linguas que ele e a ministra, para além de umas guerras intestinas e perfeitamente inúteis (Cinemateca, São Carlos etc.) não deixaram nada de registo. Também só agora é que o Primeiro-Ministro reconhece que errou ao não apostar mais na Cultura e que tenha sido tratada “como um parente pobre”.

Pois!...

 


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