15 de Agosto de 1993
Decidi que não haverá nomes próprios no Ensaio, ninguém se chamará António ou maria, Laura ou Francisco, Joaquim ou Joaquina. Estou consciente da enorme dificuldade que será conduzir uma narração sem a habitual, e até certo ponto inevitável, muleta dos nomes, mas justamente o que não quero é ter de levar pela mão essas sombras a que chamamos personagens, inventar-lhes vidas e preparar-lhes destinos. Prefiro, desta vez, que o livro seja povoado por sombras de sombras, que o leitor não saiba nunca de quem se trata, que quando alguém lhe apareça na narrativa se pergunte se é a primeira vez que tal sucede, se o cego da página cem será ou não o mesmo da página cinquenta, enfim, que entre, de facto, no mundo dos outros, esses a quem não conhecemos, nós todos.
José Saramago em Cadernos
de Lanzarote I Volume
2 comentários:
"OS CADERNOS DE LANZAROTE", a par de "conta-corrente" (do Vergílio Ferreira), foi do melhor que li até hoje. Ambos absolutamente imperdíveis para ficarmos a conhecer melhor Portugal e os portugueses, e não só...
Sei que me estou sempre a repetir quando se fala nestas obras mas sou realmente obsessivo por elas.
Nunca são demasiadas este tipo de repetições, bem pelo contrário!
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