O exemplo encontrado saiu por acaso. Podia
ser um outro qualquer livro.
Terna é a Noite tem uma forte influência autobiográfica e o filme realizado por Henry King não chega aos calcanhares do livro, tão pouco a Riviera e as excelentes Jennifer Jones e Joan Fontaine, ajudaram à missa.
Tudo isto vem apenas para lembrar uma velha
história:
Duas cabras estão num estúdio de Hollywood a
comer uma bobine de filme. Poderia ser do filme de King. Diz uma das cabras:
-Então, está tudo bem?
A outra responde:
- Está, mas gostei mais do livro.
Em OJogo do Reverso, António Tabucchi tem um conto à volta do livro de Fitzgerald:
«À noite
falávamos de Fitzgerald ouvindo Tony Bennett que cantava Tender is the Night. Do filme, para dizer a
verdade, ninguém tinha gostado, nem sequer o senhor Deluxe, embora não fosse de
gostos difíceis. Mas o Tony Bennett tinha uma voz «pungente como o romance», e
o Gino tinha de voltar a pôr o disco uma quantidade de vezes. Inevitavelmente
pediam-me o início do livro, todos achavam delicioso que eu soubesse de cor o
início dos romances de Fitzgerald: só os inícios, que eram uma das minhas
paixões. O senhor Deluxe, sério como de costume, pedia silêncio, eu procurava
esquivar-me, mas não era possível dizer que não, o disco do Tony Bennett tocava
em surdina, o Gino tinha servido os bacardis, eu olhava fixamente para ti, tu
sabias qua quele início te era dedicado, era quase como se tivesse sido eu a
escrevê-lo, acendias um cigarro na boquilha, também aquilo fazia parte da
representação, brincavas à flapper, mas não tinhas nada de uma flapper,
nem a franja, nem as meias de rayon e muito menos o espírito; tu pertencias a
outra categoria, poderias ter entrado talvez num romance de Drieu, ou de Pérez-
Galdós, tinhas um sentimento trágico da vida, talvez fosse o teu egoísmo sem
solução como um castigo.»
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