domingo, 18 de julho de 2021

UM EFEITO DE EVIDÊNCIA

Citas muito, dizem. Sempre foi assim. Como explicar? Não se trata nem do uso de argumentos de autoridade nem de exibicionismo cultural. Mas incomoda, eu sei, e permite que se insinue que se não pensa pela própria cabeça, ou que se vive alimentado pelas modas «que vêm do estrangeiro».

Gostaria de tornar bem claro como o gosto da citação tem a ver com um amor intenso das palavras. Por vezes, citação que excita pela convicção de que alguém encontrou um dia as palavras certas – isto é, os nomes próprios – para dizer algo que em nós foi expressão confusa e enrodilhada. Aqui a citação tem um efeito de evidência. Que é sempre, acreditem, motivo de júbilo.

Por outro lado, a citação é um incitamento. Porque retirar as palavras de um contexto (a citação faz um desvio) é criar em torno delas um halo de silêncio, um anel de referências implícitas, que abre o espaço para dizer mais. O espaço off de uma citação é um convite para se pensar. A citação condensa, mas ao mesmo tempo indecide – efeito de descontextualização.

Eduardo Prado Coelho em Tudo O Que Não Escrevi, Volume I

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